quinta-feira, 19 de julho de 2012

QUANTO MAIS FANTÁSTICO MAIS REAL

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[ 1970]

QUANTO MAIS FANTÁSTICO MAIS REAL

40 ITENS PROSPECTIVOS

PERGUNTAS DE A.C. A AFONSO CAUTELA

AINDA SEM RESPOSTA(*)


(*) Desesperado, nos primeiros anos 70, porque ninguém o entrevistava sobre temas prospectivos que o obcecavam, resolve fazer ele as perguntas sobre itens do maravilhoso, surrealismo, realismo fantástico e etc. Este rol de itens sobre surrealismo e futuro é, evidentemente, contemporâneo das séries «Notícias do Futuro» (n’ O Século Ilustrado e no Notícias da Beira) e da minha campanha surreal-abjeccionista, lisonjeado pela atenção do Cesariny, que devo situar nos anos 1970-71 e 72.

(*) Ainda está a tempo de responder (9/5/1997 e sexta-feira, 7 de Maio de 2004)

Respondendo um dia a interrogações a seguir formuladas sobre prospectiva, futurologia, surrealismo, realismo fantástico, literatura de antecipação, extraterrestres, civilizações desaparecidas, política da imaginação e revolução cultural, propõe-se o autor elaborar, um dia, num quadro coerente, a síntese ou súmula das suas investigações de 42 anos sobre a imaginação como método científico. (19.Julho.2012)


1 - A proliferação de escolas e correntes no teatro, nas artes plásticas, na música, na literatura e na poesia, - significará uma procura autêntica da imaginação no caminho do "inadmissível" e do "desconhecido" (do ainda ignorado) ou apenas uma anárquica, cancerosa multiplicação de modas formais, sem raízes no desejo profundo de uma profunda mutação ou metamorfose humana?

2 - "Aceleração histórica" parece constituir hoje um conceito fundamental, susceptível de determinar viragens decisivas em todos os campos do conhecimento e da actividade humana. Como sente e pensa esse conceito e suas consequências?
Que experiência pessoal dele nos pode transmitir?

3 - Dada a urgência em acompanhar a referida "aceleração histórica", a cultura deveria ser já hoje aquela organização ou técnica que tivesse por finalidade:
- hierarquizar valores;
- estabelecer prioridades;
- deixar para as máquinas de pensar o que pode ser realizado por elas com mais rapidez e eficácia;
- deixar para os homens o trabalho de programar os computadores.
Deixando às máquinas o que elas podem fazer, será possível impedir que a referida "aceleração" nos ultrapasse e esmague definitivamente?
Valerá a pena pedir que a pedagogia contemporânea pense nisto? E resolva?


4 - "L'Encombrement" foi o termo que o grupo francês de Prospectiva (Association Gaston Berger) escolheu para sintetizar a encruzilhada do homem contemporâneo que, afogado de supérfluos, não distingue daí o essencial.
Afogado de informações e dados, que deverá fazer-se para o libertar?.
Parece-lhe importante saber antes de mais nada o que é importante?

5 - 80% dos cientistas que viram a luz desde que o homem existe, estão actualmente vivos (a sua acumulação inicia-se praticamente em 1900).
"Esta prodigiosa equipa criadora" - diz Henri Prat, professor da Faculdade de Ciências de Marselha - "praça forte de centenas de milhar de cérebros superiormente treinados, de todas as nações e de todas as raças, apoiando-se sobre a herança de todos os génios desaparecidos, equipa de tal forma que nunca se viu nada de comparável, representa a força motriz actual do "foguetão humano". É ela que a uma velocidade crescente nos projecta para o nosso destino. Onde nos conduzirá?"
Onde?

6 – “Quando o físico italiano Bruno Pontecorvo, que trabalhava em Inglaterra, emitiu a hipótese que o interior das estrelas poderia ser directamente observável graças a partículas muito penetrantes, os neutrinos, riram-se-lhe no nariz.
Pontecorvo partiu para a URSS onde obteve o prémio Lenine pelos seus trabalhos sobre a observação directa do interior das estrelas, graças a um telescópio de neutrinos.”
Comentário:

7 - A paixão do "desconhecido" (do ainda ignorado ) tanto se faz sentir hoje no sentido futuro do tempo (futurologia) como no do passado (arqueologia): o problema das civilizações paralelas já foi colocado e parece oferecer um permanente desafio à imaginação do homem em geral e dos poetas em particular.
Parece-lhe susceptível de tal importância a chamada "história paralela" ou "invisível", a "história desconhecida da historiografia oficial"?

8 - Alguns autores falam hoje de uma mutação provável e próxima, mesmo eminente, da espécie humana.
A dar-se essa mutação, haverá desde já sinais dela?
Como se caracterizaria e que importância teria (ou já está a ter) para os dados em que se apoia a Antropologia clássica?

9 - Desmond Morris tem sido um best-seller mundial.
Poderá ver-se neste fenómeno uma paixão crescente da grande maioria pelos problemas da Antropologia?
Mas não será também Desmond Morris um dos últimos abencerragens da Antropologia imobilista e tradicional que amarra o homem aos seus estratos animais em vez de o libertar no sentido da espiral da evolução cósmica?

10 - Dentro da espécie humana, não estará já a verificar-se uma nova espécie de criaturas diferenciadas que significam, na escala zoológica, um grau de avanço em relação ao imediatamente anterior?

11 - O surrealismo foi, no intervalo das duas guerras, uma das primeiras tentativas para reabilitar correntes do pensamento e da arte que o racionalismo do século XIX (via reduzida) obliterara.
A sua pesquisa tanto se exerceu no tempo - passado e futuro - como no espaço - culturas não ocidentais.
Que virtualidades têm ainda hoje essas pesquisas e as correntes posteriores ("realismo fantástico", por exemplo) lhe acrescentaram?

12 - Estará hoje suficientemente claro, aos mais lúcidos, que o surrealismo não foi um irracionalismo mas um super-racionalismo?
Parece-lhe esta distinção importante para o juízo histórico que se há-de proferir, uma. vez que se atribui, por exemplo, o advento nazi a uma ressurreição de irracionalidades desencadeadas?

13 - A verdadeira imaginação não será uma superior racionalidade? Confundir irracional com surreal, não será fazer a apologia de um obscurantismo (o racionalismo de pequeno porte e dogmático) em nome da luta contra outro obscurantismo (o irracionalismo como, de facto, uma manifestação primária, pré-evoluída e pré-lógica, da espécie?)

14 - O mesmo equívoco não estará a verificar-se quando a pesquisa vai até aos alquimistas e a todos os surtos da literatura e da arte fantástica, a todo o utopismo e a toda a corrida para o imaginário?
Não estará a confundir-se o que pode haver de racionalidade aberta em certas manifestações artísticas com um conceito de irracionalidade demasiado estreito e apressado?

15 - O "despertar dos mágicos" e todo o movimento nascido do livro-manifesto de Louis Pauwels e Jacques Bergier, significaria um racionalismo aberto ou um retorno ao obscurantismo irracionalista?

16 - A criação de vida no laboratório, a imortalidade, a invisibilidade, a levitação, a comunicação com os mortos, a observação do passado e do futuro, a telepatia: devem tais ambições encarar-se como definitivamente impossíveis (utopias no sentido pejorativo) ou como coisas que poderão conseguir-se um dia?
Devem inscrever-se no campo das possibilidades a explorar, ou arrumar-se como delírios inúteis de uma fase atrasada da mente humana?

17 - Embora os discos voadores sejam, frequentemente, motivo de gracejos por parte do grande público, tem havido sérias e extensas discussões na comunidade científica acerca da possibilidade de esses objectos serem veículos vindos do espaço exterior.
Qual a sua opinião?

18 - Se os discos voadores são uma realidade, o que pensa que isso significa e quem são os seus timoneiros?

19 - Entre as razões aduzidas pelos que duvidam da origem interestelar dos objectos voadores, encontra-se a «teoria especial da relatividade» de Einstein, seguindo a qual a velocidade da luz é absoluta e nada pode excedê-la.
Por conseguinte, uma viagem, mesmo da mais próxima estrela até à Terra, duraria milhares de anos. Afirmam que isto exclui virtualmente as viagens interestelares - pelo menos a dos seres sensitivos cuja duração de vida seja tão curta como a mais longa que o homem conhece.
Este argumento parece-lhe válido?

20 - O físico Robert Etlinger e outros, propuseram a congelação de corpos mortos em nitrogénio líquido, até uma data longínqua, em que possam ser revivificados.
Que pensa desta ideia?

21 - Pessoalmente, tem algum interesse em ser congelado?

22 - Os que discordam do congelamento criogénico argumentam que a morte é o ponto culminante, natural e inevitável da vida, pelo que não deveríamos discutir com ela, mesmo que tal nos fosse possível.
Qual a sua opinião?

23 -.Partilha a opinião de alguns psiquiatras, segundo a qual a nossa permanente confiança no equilíbrio do poder nuclear, com todos os consequentes riscos de uma catástrofe maciça, poderia reflectir uma espécie de desejo de morte colectiva?

24 - No meio da confusão gerada pelas escolas estéticas que teorizam poesia e arte, que lhe parece possível fazer - ao alcance de quem escreve e  para delimitar e definir de novo a imaginação e seu primado e soberania e autonomia e alcance?

25 - A tecnologia dos computadores foi anunciada por medíocres profetas como o advento dos homens-robot e como a morte definitiva do homem, ou seja, da espécie humana naquilo que especificamente a caracterizaria, a sua audácia ou capacidade poética, criadora, inventiva ou imaginativa.
Qual a sua opinião: a automação, mecanizando os processos da inteligência calculatriz, veio reabilitar a soberania da imaginação, - ou definitivamente liquidá-la?

26 - O realismo fantástico - marcado em 1960 pelo aparecimento do livro “Le Matin des Magiciens”- foi asperamente criticado quer pelos surrealistas, quer pelos racionalistas:
A 10 anos de distância, poderemos concluir que o movimento de Louis Pauwels e Jacques Bergier era necessário, ou que nada adiantou, sob o ponto de vista que aqui nos importa : a revivescência dos direitos da imaginação como virtude cardial do pensamento humano?

27 - Escolas como o concretismo-experimentalismo e o novo romance contribuíram, a seu ver, para reavivar entre nós o interesse pelo trabalho da imaginação ou, ao contrário, para mais o desvirtuar e comprometer, na sequência das nossas tradições anti-imaginação?
Que quota de responsabilidade entende dever atribuir-se a essa e outras escolas (por alguns consideradas neo-académicas) no panorama actual da literatura portuguesa em geral e da poesia em particular (por alguns considerado um triste panorama)?

28 - Uma persistente teorização tem pretendido exilar o poeta da poesia, separar o actor da obra, irresponsabilizar o criador da coisa criada, desligar a experiência pessoal da imaginação.
Qual, a seu ver, o alcance desse estratagema., que fornece, como é sabido, uma boa via para fazer da literatura uma actividade profissional de habilidosos profissionais?

29 - A que deverá atribuir-se o advento de neo-formalismos na nossa poesia e na nossa literatura?
Exilar o criador da coisa criada não será, não terá sido uma cómoda maneira de voltar à literatura literária, a tal que, segundo André Breton leva a tudo, incluindo à glória e a lugares bem remunerados?

30 - Quais a seu ver, e num cômputo rápido, os autores e correntes de pensamento que, em vez de travar, estimulam e enriquecem o movimento da imaginação para a imaginação?

31 - Parece-lhe justo estender hoje até aos ensaístas que imaginam o futuro, o conceito até agora estrito de imaginação?
Os casos de Jorge Luís Borges e de Teilhard de Chardin exemplificam, a seu ver, o que pode ser a inteligência como imaginação e a imaginação como inteligência?

32 - Dado que a crítica literária em Portugal navega por outras águas que não estas - as da imaginação e seu primado - parece-lhe que isso estará dando origem a monumentais injustiças de apreciação e a uma completa inversão dos valores conhecidos e reconhecidos?
Quer dizer: acha que o panorama oficial da actual literatura portuguesa coincide com o panorama real, ou que se desfasa dele até à total descoincidência?

33 - Dado o completo despiste em que, segundo alguns, se encontra a crítica, acha que poderão repetir-se (multiplicar-se) hoje os casos já clássicos e tão interessantes (sempre muito chorados de Amadeo e Pessoa, completamente ignorados para não dizer cilindrados pela crítica sua contemporânea?)

34 - Parece-lhe, enfim, necessária uma PEDAGOGIA DA IMAGINAÇÃO?

35 - Que importância poderá vir a ter para o desenvolvimento (político e cultural ) português, um estudo sistemático da PROSPECTIVA - seus métodos e princípios?

36 - A capacidade de prever, em ciências humanas, poderá evitar erros e concorrer para dar soluções mais inteligentes aos problemas políticos, económicos e sociais?

37 - Seja qual for a evolução do mundo nos próximos dez anos, acredita que é possível imprimir ao desenvolvimento português uma aceleração que corrija o atraso em relação aos países da Europa?

38 - A qual das actividades dar prioridade: Educação; Economia; Política; Investigação Fundamental; Pedagogia da Imaginação?

39 - Prospectiva é a filosofia do desenvolvimento, ou antes é o sinónimo de Estratégia Global do Desenvolvimento: que se lhe oferece dizer sobre as possibilidades abertas pela EGD (estratégia global do desenvolvimento) à "revolução cultural” que todos entendem ser urgente?

40 - Que podem uma ciência e uma mentalidade prospectiva contra o ciclo vicioso e as contradições da "sociedade burocrática de consumo dirigido" (Henri Lefèbvre)? ■