sexta-feira, 7 de Novembro de 2003
ATÉ À IDADE DE OURO E AO PERDIDO CONTINENTE MU
Lisboa, 1 /11/ 1996 - Um paleógrafo tem sempre alguma coisa de interessante para nos dizer, para nos decifrar. E quanto mais antigo for o código, o texto, a cifra, a inscrição, o símbolo, melhor.
Especializado em decifrar textos cifrados, inscrições, palavras, letras, símbolos, ideogramas, o paleógrafo é um auxiliar precioso de uma das 12 ciências sagradas - a Alfabetologia. E se for um encarregado do curso de Paleografia Chinesa , na Universidade de Montpellier, ainda melhor. Tem todo o peso institucional que um «chargé» implica . Mesmo quando se trata de ciências sagradas, convém estar de bem com as beneméritas instituições profanas.
É o que vamos encontrar em J.A. Lavier, especialista em Sinologia, especialista em Bionergética Proto-chinesa e, melhor ainda, especialista em Paleografia Proto-chinesa. Ele está à vontade dos dois lados: na ciência profana e na ciência sagrada. Vai às fontes, às raízes, antes da confusão babélica. Apanha os símbolos antes de eles serem degradados por tradutores/traidores, escribas pouco escrupulosos, comentadores/ruminadores, intermediários de toda a ordem.
Aproveitemos do seu meticuloso trabalho, feito com chinesa paciência. É um regalo seguir a sequência de símbolos apresentados por J.A. Lavier, em «Bio-Énergétique Chinoise» , Ed. Maloine, Paris, 1976/1983. E, com o pêndulo de radiestesia, aproveitar esse banho de vibrações primordiais que os ideogramas por ele decifrados certamente contêm.
Os opostos - A decifração de símbolos tem muito a ver com alguns opostos significantes do tipo:
sedentário/nómada
Norte/Sul
Este/Oeste
pai/mãe
Rio Amarelo/Rio Azul
poder espiritual (qualitativo)/ poder material (quantitativo) nomeadamente em livro onde se esmiuça uma bioenergética toda ela baseada no binário yin-yang.
Binário, não. O senhor J.A. Lavier, com o peso da sua autoridade académica, insurge-se contra esse hábito degradante de considerar o yin- yang um binário. Não senhor, assegura ele, até o especialista em sinologia, Marcel Grasset, meteu a pata na poça. A página 31, Lavier argumenta:
«Yang e Yin não podem ser concebidos separadamente um do outro. Dizer Yin-Yang é exprimir necessariamente um ternário, no qual o traço de união toma um notável valor.»
Para Lavier e sua minúcia caligráfica de paleógrafo, a obra clássica de Marcel Grasset «La Pensée Chinoise» começa por um erro, porque considera Yang e Yin um binário, o que é, para Lavier, uma pura impossibilidade: « É só a partir do Ternário que se pode falar de manifestação.»
Ocorrrências unitárias - Mas J.A. Lavier não é só perito em ocorrências binárias. Ele regista, com particular acuidade, ocorrências unitárias relevantes, ou seja, ocorrências (ainda) sem oposto conhecido.
Como por exemplo:
a) Os protochineses foram um povo «solar» como os primeiros egípcios e os Maias, e construíram pirâmides, símbolos indissociáveis do Sol, atrás do qual aparece a unidade criadora
b) A tradição protochinesa falava do homem Primordial, ou Homem Perfeito, cujos sucessores perderam, a pouco e pouco, as qualidades e capacidades, o que é conhecido como «queda do homem» comum a todas as tradições.
c) A Bíblia judaico-cristã «coloca a era dos gigantes imediatamente antes do Dilúvio, ou o Dilúvio imediatamente depois da Era dos Gigantes» - diz A.J. Lavier
d) Com base nestes pressupostos alegadamente encontrados no que Lavier chama os protochineses, verificam-se 2 outras notícias interligadas relevantes:
dd) O gigante Kong Kong teria feito oscilar (!!!) a Terra, elevando-a a Leste (Himalaia) e afundando-a no Oceano a Leste.
ddd) Este afundamento teria sido o Dilúvio e teria sido o afundamento do Continente Mu (Mou) conforme a tese de James Churchward que J.A. Lavier perfilha. ( Ver « O Continente Perdido de Mu», James Churchward, Ed. Hemus, São Paulo, 1972)
Sem esquecer que é paleógrafo, ele levanta então um problema de vogal a mais ou vogal a menos na palavra Mu.
«Com efeito - escreve ele, com a pertinácia irresistível que o caracteriza - se se estabelecer uma lista de caracteres chineses que se pronunciam Mou em francês, levando em conta os caracteres implicados pela pronúncia derivada Mwo, encontra-se uma lista interminável de significados que o Mu, Mou ou Mwo quer dizer:
matriz
modelo
amar (querer)
túmulo
sepultura
velhice
tarde
declínio
fim
mãe
princípio
fundamento
mergulhar
mestre
magestade
dignidade
afecção
harmonia
concórdia
deserto
obscuridade
silêncio
miséria
calamidade
doença
encobrir
etc
Desta lista - heterogénea demais para se lhe encontrar assim um fio condutor tão patente - retira , no entanto, Lavier uma ilação algo abusiva, perguntando:
«Não estará aí, em qualquer hipótese, uma evidente alusão à Terra-mãe de Mou e ao seu desaparecimento catastrófico?»
Como assim, senhor Lavier?
Quanto à lista que ele considera tão significativa, sublinho com regosijo: Afinal, não é só o sr. Afonso Cautela que gosta de listas. O sr. Lavier também.
Toda a história de Mu num só ideograma - Outra vez dentro da sua especialidade - a paleografia chinesa - J.A. Lavier aparece muito mais convincente quando nos diz que um determinado ideograma (dos muitos que ele genialmente descodifica e que fazem deste livro uma verdadeira obra-prima das ciências sagradas) significando Hai acaba por ser decifrável « se aceitarmos a tese do continente tragado de Mou» e que tudo, nesse ideograma, « se torna límpido: a água e o mar que cobre uma mulher».
Ou seja, segundo Lavier, esse ideograma (que poderão ver na página 15 da obra) conteria a história admiravelmente resumida do continente desaparecido, origem presumível das civilizações periféricas do Pacífico, de que os protochineses - conforme ele lhes chama - seriam uma delas.
Com esta ousadia de paleógrafo, é de admitir que toda a gente se faça militante de Lavier e da Paleografia, pelo menos os que adoram teses ousadas e maravilhosas, que nos remetem para a (nossa) Idade de Ouro.
Defendidas então por um austero decifrador de códigos - insuspeito de gostar de literatura de ficção - é irresistível.
Como irresistível é a sua tese sobre os povos de conquistadores (Mongóis, Turcos e outros abutres da época) que teriam ocupado e tentado dizimar os protochineses.
Significativa e muito elucidativa é a lista de ocorrências que, a partir dessa conquista, Lavier atribui ao invasor:
tortura
massacres
poligamia
eunucos
astronomia zodiacal
calendário lunar
panteão de deuses sangrentos
Desta vez a lista é capaz mesmo de ser homogénea...
Os jornalistas de ontem - Sinal de uma cruel decadência , para Lavier, é o comportamento dos escribas, que não se ensaiavam nada - tal como os jornalistas de hoje - em fazer falsas grafias dos textos e caracteres que lhes competia preservar.
É o que torna o livro de Lavier um livro-chave em Noologia: ele realiza, com paciência de paleógrafo, a decifração, ideograma a ideograma, de tudo o que constitui a primordial linguagem dos símbolos protochineses, directamente herdados dos deuses de Mu ou Mou.
Quando falamos de emocionante, fascinante e maravilhoso das 12 ciências sagradas é evidentemente disto que falamos: chegar ao continente perdido de Mu e à respectiva Idade de Ouro, ideograma a ideograma.
Taoísmo deu Zen - Encontramos em J.A. Lavier a explicação histórica de o Taoísmo ter sido chamado Zen, como acontece, por exemplo, em Jorge Oshawa: «Seguindo as pisadas dos turcos, o budismo entrou na China cerca do ano 400. Esta doutrina foi interdita no século IX, pelas suas tendências igualitárias, mas teve tempo de digerir o taoísmo que se transformou em Chan, mais conhecido pelo nome japonês Zen.»
É o que diz J.A. Lavier, página 21 da sua magnífica obra «Bio-Energétique Chinoise».
Reino Hominal - Todo o capítulo II - «Entre Céu e Terra» - do livro de Lavier é uma magnífica introdução à Noologia.
Na impossibilidade de o traduzir na íntegra, assinala-se aqui o que ele nos diz da questão de fundo:
Onde está afinal a Idade de Ouro? Já foi ou irá ser?
Chamando hipótese à tese darwinista/evolucionista, lembra que as tradições são unânimes em 2 pontos precisos:
a) A grandeza do antepassado face à degradação do homem actual
b) A ligação desse antepassado a uma qualquer linha animal.
E cita Antoine Fabre-d'Olivet, que estudou a fundo a história filosófica (a história noológica) do género humano:
«Os filósofos, naturalistas ou físicos, que fecharam o homem na classe dos animais cometeram um enorme erro. Enganados pelas suas observações, pelas suas frívolas experiências, eles negligenciaram consultar a voz dos séculos, as tradições de todos os povos. Se tivessem aberto os livros sagrados mais antigos do mundo, chineses, hindus, hebreus ou persas, teriam visto que o reino animal existia antes do homem.
Quando o homem apareceu sobre a cena do universo, formou só por si, um 4º reino, o Reino Hominal.
Este reino é chamado P'an Kou pelos chineses
Pourou pelos brâmanes
Kai-Omordz ou Meschia pelos sectários de Zoroastro
e Adam pelos hebreus.»
Fabre d'Olivet explica:
«É preciso entender por Adam , não um homem em particular mas o Homem em geral, o homem universal, o género humano inteiro, o Reino Hominal, enfim.»
Lavier termina em apoteose este capítulo fundamental em Noologia :
«A consequência mais evidente desta «queda» do homem que todas as tradições sem excepção descrevem, deste envelhecimento da humanidade, consiste em uma esclerose que extingue certas funções e atributos que o antepassado normalmente possuía. No venerável clássico «Nei Tching Sou Wen» , o imperador Amarelo confirma:
«Os nossos antepassados eram gentes extraordinárias: viviam durante centenas de anos, nunca estavam doentes, sabiam deslocar-se no espaço com meios que nós não temos, viam e ouviam coisas que nós não vemos nem ouvimos. A humanidade teria perdido alguma coisa?» - pergunta ironicamente Lavier:
«Toda a aparelhagem dos nossos engenheiros (...) é profética na medida em que tende a substituir funções que o homem perdeu no decorrer do seu envelhecimento.»
Telepatia
Vidência
Telequinésia
Levitação
seriam alguns dos poderes perdidos pelo homem da queda.»
Um desafio final:
«O médico encontrará no ponto de vista tradicional a explicação das doenças degenerativas e porque estas doenças se manifestam em pessoas cada vez mais jovens.»
Lisboa, 1/11/1996