terça-feira, 15 de março de 2011
BRIAN INGLIS: O MISTÉRIO DA INTUIÇÃO
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O LIVRO DA VIDA
14.04.2002
«A intuição não é contrária à razão, é apenas qualquer coisa fora da província da razão.» - Carl Gustav Jung
A psicologia fala de «intuição», a radiestesia holística de 6 º sentido, Sócrates dizia-se possuído por um «daimon», Goethe falou de «doppelgangers» e Maurice Maeterlinck chamou o «hóspede desconhecido» a essa entidade protectora, especificamente encarregada de velar por nós.
Mudam-se os tempos, mudam-se os nomes, mas a ideia central de um «anjo da guarda» (vinda da tradição cristã) persiste como constante do espírito humano.
Razão esta mais do que suficiente para lhe dedicarmos, na ciência holística da vida, a atenção que a ciência analítica e ordinária lhe nega: Brian Inglis, autor do livro que em brasileiro foi editado com o título «O Mistério da Intuição» mas que no original inglês se chama «O Hóspede Desconhecido» (The unknown guest), explica assim um pouco do que é esse «hóspede desconhecido»:
«Há outro ser, mais secreto e muito mais activo, que apenas começamos a estudar e que é, se descermos ao leito de rocha da verdade, nossa única existência verdadeira. Desde os recantos mais obscuros do ego, ele dirige a nossa verdadeira vida, a que não morrerá, e não presta atenção ao nosso pensamento, nem a coisa alguma que emane da nossa razão, a qual acredita que ele nos guia os passos. Só ele conhece o longo passado que precedeu o nosso nascimento e o futuro sem fim que se seguirá à nossa partida desta terra. É ele mesmo esse futuro e esse passado, todos aqueles de que brotamos e todos aqueles que brotarão de nós. Representa no indivíduo não somente a espécie, mas também o que a precedeu e o que a ela se seguirá; e não tem começo nem fim; eis aí porque nada o toca, nada o move que não diga respeito ao que ele representa.»
Curioso na descrição de um fenómeno estudado pela psicologia – a intuição – é o paralelismo deste texto de Maeterlinck com as descrições que hoje podemos ver bastante divulgadas sobre o ADN molecular e o código genético que nele se contém.
Jean Noel Kerviel, no seu opúsculo « A Procura da Pedra Filosofal», compara-o mesmo a um livro onde podemos ler toda a informação passada, presente e futura.
Referindo-se a «este ADN muito complexo » - Kerviel sublinha um facto que dá que pensar: «um a dois metros por célula perfazem, colocados ponta a ponta, para os 600 biliões de células que constituem o nosso organismo, uma distância superior a 600 vezes a da Terra ao Sol.»
Ora – sublinha ele - é «sobre este ADN muito complexo que estão inscritos: o nosso código genético, a nossa hereditariedade, tudo o que foi vivido pela vida desde que ela existe, tudo o que poderá ser vivido no futuro (a potencialidade para que esta ou aquela coisa se produza está já inscrita) e o modo de funcionamento desta molécula, sem esquecer algumas páginas em branco que são a imagem da nossa estreita e real liberdade.»
Esta passagem de Kerviel, não só dá que pensar como nos remete para a questão vertical do nosso sonho: a informação em ciências da vida. De facto, nada mais apropriado do que comparar o ADN molecular a um livro ou, como faz Maurice Maeterlinck, a um «hóspede desconhecido».
Aqui o citamos com ênfase, por nos parecer que exorbita da psicologia académica para nos apontar pistas no sentido de compreender o nosso mundo vibratório e a informação que dele recebemos e através dele transmitimos. Sem que a ciência analítica saiba nada desse mundo vibratório, ou já tenha esboçado algum esforço sério para o saber.
Recorde-se que o último livro de Étienne Guillé, publicado no ano 2000 , se chama «O Homem e o Seu Duplo», sendo «duplo», neste caso, a palavra que podemos ir buscar à tradição iniciática dos hierofantes (?) do antigo Egipto faraónico.
Interfaces à vista para este «duplo» que, no livro de Étienne Guillé, é considerado por oposição ao que ele designa por «ser directo», são alguns dos itens emergentes na actual conjuntura do meio considerado esotérico, como por exemplo: o tarô, a geomancia, o I Ching, a profecia, a numerologia, a parapsicologia, a astrologia, etc.
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PARACELSO NA BIBLIOTECA DO GATO
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PARACELSO DESCONHECIDO(*)
[«Livros na Mão», «A Capital», 11-9-1990] [24/8/1990] - A reabilitação póstuma de Paracelso, que teve o seu auge ao longo de todo o século XIX, assenta afinal em bem pouca coisa, a julgar por uma leitura retrospectiva das suas obras: um punhado de intuições fulgurantes, aquém e para além do tempo, é talvez o que resta de uma obra que, em vida do autor ( 1493-1521), foi sistematicamente vilipendiada pelos invejosos da época, inclusive pelos mais dilectos discípulos como esse misterioso Oparinus, canalha que assume o recorte refinado do clássico traidor. Como se para cada Jesus tivesse sempre que haver um Judas. E a verdade é que, em certos aspectos, Paracelso até nem era nenhum santo.
Resta dele, hoje, portanto, a lenda que se vai formando quando são grandes as lacunas na vida e na obra de um autor: Paracelso é também o mito que dele fizeram as dezenas de obras sobre a sua personalidade controversa, surgidas pró e contra, nos mais diversos países da Europa, durante o século XIX.
Entre as intuições que se podem citar a título de exemplo, que nele assinalam um «contemporâneo do futuro» e que dele fazem um profeta só tardiamente reconhecido como tal, é de sublinhar a que escreveu sobre a predestinação, na qual desenvolve uma ardilosa «teoria do castigo divino como causa das enfermidades», teoria que coincide, em muitos pontos, com a lei cármica das cosmogonias orientais (hindu, tibetana, chinesa) mas que no Ocidente, quer pela via greco-latina, quer pela via judaico-cristã, foi sempre letra morta.
Esta «teoria do castigo divino» é claramente desenvolvida por Paracelso em uma das raras obras suas que não se perderam, o «Tratado da entidade de Deus» , aparecido no «Quinto Livro, não pagão, acerca das entidades morbosas» incluído no segundo «Paramirum» (o primeiro foi um dos muitos livros seus que se perderam).
A reabilitação em força de Paracelso, poderá dever-se, portanto, ao facto de ele ter, numa cultura analfabeta e sórdida, introduzido alguns conceitos que, sendo lugares-comuns na sabedoria universal, sempre se ignoraram numa cultura como a ocidental, caracterizada pelo puro analfabetismo e pela mais dessorada e arrogante das ignorâncias.
TRADUZIR PARACELSO
Traduzir para a língua portuguesa, em 1990, o «Livro das Ninfas, Silfos, Pigmeus e Salamandras e de Outros Espíritos» deveria entender-se, portanto, como um primeiro contributo para o conhecimento do desconhecido Paracelso. Só que não é. Tratando-se da parte «morta» de um autor que tem, no entanto, muita coisa ainda viva para mostrar(as tais intuições acima referidas), esta tradução deverá funcionar apenas com objectivos de erudição, como actualização para os estudantes e estudiosos de artes e letras. Fica, entretanto, por conhecer o precursor de algumas banalidades de base que tanta falta continuam fazendo na cultura ocidental.
A tradução de Paracelso, agora empreendida, funciona assim no âmbito estritamente universitário, com o objectivo de rever matéria dada e fornecer fontes bibliográficas fidedignas pouco acessíveis aos alunos de Letras, eruditos, investigadores e especialistas, necessitados de quem lhes facilite e tarefa.
Neste contexto, o livro de Paracelso agora editado em língua portuguesa pela Cooperativa de Serviços Culturais « A Páginas Tantas», com um estudo minucioso de Teolinda Gersão, onde principalmente se assinala o papel de Paracelso no posterior surto romântico que assolaria a Europa, como um solene aviso das fontes a que era urgente recorrer, poderá dizer-se que vem preencher uma lacuna na cultura escolar do ensino superior em Portugal. Mas a sua actualidade é nula. Nada, nesta narrativa meio filosófica, meio fantástica, tem hoje qualquer funcionalidade, deixando portanto ao leitor comum uma imagem distorcida do Paracelso essencial, do Paracelso (ainda) vivo.
Aliás, Teolinda Gersão, no cuidadoso estudo que lhe dedica, faz notar neste «Livro das Ninfas» a linguagem «monótona e pouco clara, enredando-se num estilo pleonástico ou sinonímico, em que o pensamento avança devagar».Eu até diria que não avança mesmo e a sensação, ao lê-lo, é de que não saímos do mesmo sítio. Para dar uma ideia do que em Paracelso houve de efectivamente precursor e profético, do que ainda nele é vivo a actual e actuante, seria necessária uma recolha antológica selectiva, em função do futuro que Paracelso efectivamente antecipou em muitos aspectos e não em função de um passado irremediavelmente morto que outros dos seus escritos acusam, como é o caso destas ninfas.
Aliás, nunca seria pelo estilo que Paracelso desempenharia algum papel na literatura europeia, nem mesmo como um catalisador da explosão romântica. Se houvesse uma história das grandes intuições que faltam à humanidade ou um itinerário das chamadas grandes aventuras espirituais, era lá que se poderia meter Paracelso.
Contemporâneo de alguns outros mitos, muito bem tratados, por motivos ideológicos ou outros semelhantes, pela erudição oficial - Erasmo, Ambrósio Pareo, Lutero, Copérnico, Miguel Ângelo - é inegável que Aureolus Filippus Teofrasto Bombasto de Hohenheim, a começar no nome que seu pai, o médico Hohenheim, se lembraria de lhe dar, não tem nada que o recomende.
Como se explica então o mito Paracelso?
Talvez a resposta esteja, não no «Livro das Ninfas», divertimento a que ele se consagrou certamente para desviar as atenções dos inimigos, mas na biografia de Paracelso que ainda não foi contada e de que o odioso Oporinus pode ser a chave alquímica. Há filósofos que permanecem malditos, mesmo depois de (aparentemente e superficialmente) reabilitados. Mas, como acontece com Paracelso, quanto mais malditos mais fascinantes. Não vão é dizer isso aos alunos da Faculdade de Letras, coitados, que têm de passar nos exames e com boas notas. Cuidado, Paracelso. Cuidado com o Paracelso.
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(*) «Livro das Ninfas, Silfos, Pigmeus e Salamandras e de Outros Espíritos» , Paracelso, com apresentação de Teolinda Gersão, Ed. «A Páginas Tantas», Cooperativa de Serviços Culturais. Equipa de tradução: Ana Paula de Carvalho Cunha, Helena Hipólito, Ana Maria Bernardo, Ana Paula Valagão Luz Clara e Helena Paula de Monteiro Leitão (**) Este texto de Afonso Cautela foi publicado na revista «Beija-Flor», provavelmente na data indicada e republicado em «Livros na Mão», «A Capital», 11-9-1990
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