pauwels-1> leituras mágicas – diário de um leitor -
O DESPERTAR DOS MÁGICOS (*)
20/11/1982 - Se um dia os cientistas descobrirem que houve sociedades com civilizações infinitamente superiores a esta dita civilização que temos, na base barrenta e cancerígena do petróleo, o estado de pânico que se criará em todo o funcionalismo da política, da economia, da ideologia, andará perto do que se verificou na invasão marciana de Orson Welles.
Nesta sociedade do petróleo - dita industrial e avançada - que conseguiu impor, a Leste e a Oeste, os seus padrões de vida (quer dizer, de morte) a quase todo o Planeta - apenas com algumas pequenas bolsas de resistência - o mito do progresso é a pedra de toque. Tudo se justifica, ou tenta justificar, em nome do progresso, nomeadamente as chacinas e mortandades, do biocídio puro e simples ao etnocídio e ao genocídio expresso.
Ora o que está para trás são fases deste apogeu - os três estados do senhor Augusto Comte - desta etapa final da Humanidade, a contas agora com a digestão de várias transamazónias, a caminho como todos notam do paraíso. Só quem tenha a mania de dramatizar tudo, não vê.
Caso a história e a arqueologia, pois, viessem a provar que antes disto houve mesmo uma Civilização, e que civilizações efectivamente houve muitas e dignas desse nome, exactamente antes desta ter começado a raiar (dar raia) nas fraldas do Mediterrâneo e arredores, pode imaginar-se quantos eruditos iriam ficar sem emprego.
OBEDIÊNCIA OU MORTE
Daí que a arqueologia hoje oscile entre a metafísica da pedrinha e a pedrinha da fotogrametria, entre o criado e o malcriado. Só pode ir - dizer que foi - até certo ponto, quer dizer, até onde não ponha em causa os fundamentos em que este sistema apoia os seus podres alicerces: a ciência ocidental, a que normalmente se chama ciência ordinária.
Se a arqueologia investiga um pouco mais, vai descobrir que ciência houve, da boa e da melhor, muito antes desta que os historiógrafos oficiais do reino anunciam.
Em suma: recuar uns séculos oferece perigos de tremendas revelações e revoluções. A verdade vem à tona. Claro que entre arqueólogos logo se mobiliza a contra-ofensiva e o rótulo de "esotérico" surge então para anatematizar tudo o que não passe pelo filtro, pelo exame, pela real mesa censória da ciência ordinária e seus exércitos de fiéis servidores.
Em 1962 - há portanto vinte anos - dois autores franceses, um químico e outro (apenas) escritor lançavam um feixe laser de hipóteses, que atordoaram muita gente.
O livro em Portugal, na tradução de Gina de Freitas, chamou-se "O Despertar dos Mágicos” e o editor não acreditava nele quando o lançou. O argumento de sempre: vanguarda não se vende. Cremos que vai na 10ª edição e continua a esgotar-se.
Gabo-me de ter escrito sobre esse livro logo que apareceu em França, o primeiro e não sei se único artigo que sobre ele apareceu na imprensa portuguesa. Posteriormente, os cadernos de “O Século” – colecção «A Par do Tempo» - viriam igualmente a consagrar-lhe exclusivamente um dos seus números.
Apostar vinte anos antes no que vai ser um êxito editorial, cultural e de opinião pública vinte anos depois, eis o que ninguém jamais neste país deverá fazer, sob pena de morte. Antecipar-se ao que o tempo vai dizer e confirmar, eis o pecado mortal. Mas não dramatizemos.
O êxito daquele livro significa que milhões de pessoas sintonizaram uma banda do espectro cultural até então interdita e tabu. Com esse livro e o movimento intelectual que dele derivou, milhões de pessoas já perceberam que a historiografia oficial foi posta em causa. Não significa isso que toda a classe dos historiadores, arqueólogos, geólogos e palentólogos se tenha convertido à verdade. A inércia tem muita força e os interesses criados ainda mais.
A NOVA GERAÇÃO QUE ESCOLHA
À nova geração cabe mais esta opção difícil, mais este salto por cima dos pais, patrões e patronos da Pátria. Entre os sacerdotes das ordens imobilistas estabelecidas - que exigem rendição e culto - e a liberdade de pensar livremente a verdade, quem vier que escolha.
Anos depois de aparecer "Le Matin des Magiciens” com um título português que não ajudava nada, surge daqueles mesmos autores franceses “O Homem Eterno”, outra bomba no charco. A Neo-Arqueologia ganhava foros de cidade, avançava na neblina de "noite e nevoeiro", livros de capa preta e letras douradas iam saindo entre o medíocre e o óptimo, colecções mantiveram-se enquanto jornais que pretendiam macaquear o novo realismo fantástico iam falindo à medida que surgiam, aliás convenientemente mal feitos, quase todos, precisamente para se provar que toda a Neo-Arqueologia e todo o Neo-Esoterismo de fancaria não passavam. Sobrevive só o mais incrível de todos.
Convinha à ciência oficial avacalhar o produto , para o que não faltaram profetas e gurus de pacotilha , à uma, cumprindo. Quando a Acupunctura chegou, não tardaram os curandeiros a invadi-la, para que os curandeiros diplomados pudessem dizer que aquilo era charlatanice punível por lei.
Em tais casos a lei funciona sobre esferas. Impecável.
Entre a ciência, a historiografia oficial e a rapioqueira mediocridade de curandeiros-astrólogos.-parapsíquicos & tal, aí temos a situação de beco, tentando convencer outra vez as massas de que não há alternativa nem saída, nem a luz da verdade deslumbrante. Mas, há vinte anos, Louis Pauwels e Jacques Bergier demonstraram que sim, que havia.
Como era de esperar, esta época que tudo polui, também abocanhou a maior e melhor descoberta que a ciência jamais fez - a anticiência, exactamente, a ciência subversiva por natureza, a Neo-Arqueologia e todas as outras anti-ciências adjacentes.
Ou não fosse ela - a Neo-Arqueologia - a outra ponta de uma linha que desemboca hoje na Ecologia, a outra das subversivas por excelência.
Vinte anos depois dos mágicos despertarem, ao toque de Pauwels e Bergier, ainda há quem durma a sono solto. A nova geração que decida. Nesta como noutras matérias, não esperemos que a salvação nos venha dos pais da pátria ou dos pais do Mundo.
Abrir os olhos e ler, abrir os ouvidos e ver, abrir o coração e sentir é a única regra de oiro para a nova geração que não quer morrer estúpida, agarrada à bomba de cobalto da televisão, ou do cinema, o tal que mente à velocidade de 23 imagens por segundo, ou do rock e outros produtos farmacêuticos.
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(*) Publicado no jornal «A Capital» (Crónica do Planeta Terra), 20/11/1982
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A AURORA DO NOVO PARADIGMA
O DIREITO HUMANO À IMAGINAÇÃO CRIADORA
9/2/1992 - O realismo fantástico -- marcado em 1960 pelo aparecimento do livro «Le Matin des Magiciens» -- foi asperamente criticado na altura, quer pelos surrealistas, quer pelos mentores da «União Racionalista», poderoso «lobby» da tecnocracia mental.
A mais de 30 anos de distância, poderemos concluir que o movimento de Louis Pauwels e Jacques Bergier (este, entretanto, já falecido) era necessário ou que nada adiantou, sob o ponto de vista que (aqui nos) importa: a revivescência dos direitos da imaginação como virtude cardial do pensamento humano?
Outras questões deixadas pelo «realismo fantástico» parece continuarem ainda hoje vigentes. Por exemplo: estará suficientemente claro, mesmo aos mais lúcidos, que o surrealismo não foi um «irracionalismo» mas um super-racionalismo, englobante e não excludente da razão?
Esta distinção é importante. Tanto mais importante quanto se insiste, ainda, em meios ditos responsáveis da inteligência, que o advento da vaga nazi se deve a uma explosão de irracionalidade desencadeada. Gabriel Marcel, em «Les Hommes contre l'humain», não era dessa opinião e considerava os crematórios nazis o auge da excelência tecnocrática: pensando em Ceausescu e sua sociedade de «comunismo científico», Gabriel Marcel parece não dever estar só na sua tese.
Mas o mesmo equívoco não estará a verificar-se quando a pesquisa vai até aos alquimistas e a todos os surtos da literatura e da arte fantásticas, a todo o imaginário?
Não estará a confundir-se o que pode haver de racionalidade aberta em certas manifestações artísticas, com um conceito de irracionalidade demasiado estreito e apressado?
O surrealismo foi, no intervalo das duas grandes guerras, uma das primeiras tentativas para reabilitar correntes de pensamento e da arte aparentemente mortas e sem virtualidades. A sua pesquisa tanto se exerceu no tempo -- passado e futuro -- como no espaço -- culturas não ocidentais.
Que virtualidades têm ainda hoje essas pesquisas e as que as correntes posteriores (o «realismo fantástico», já citado) lhe acrescentaram?
No meio da confusão gerada pelas escolas estéticas que teorizam poesia e arte, que parece possível fazer -- ao alcance de quem escreve -- para delimitar e definir de novo a imaginação e seu primado, soberania, autonomia e alcance?■