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19-10-1990
«VI UM EXTRA-TERRESTRE E NÃO TENHO QUE PROVAR NADA»(*)
(*)Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital» em data que não posso precisar
«Vi um extra-terrestre e não tenho que provar nada» - disse a «A Capital» o francês Claude Vorilhon, 44 anos, líder de um movimento pacifista e neolibertário - «os raëlianos» - , escritor por força das circunstâncias ( os seus livros são um sucesso de vendas), ex-jornalista de automóveis, profissão que deixou, aos 27 anos, quando se «sentiu chamado» à missão de prégar a boa nova.
«Conto tudo isso no meu livro, que acaba de sair em edição portuguesa da Europress e cujo lançamento terá lugar na próxima quinta-feira, em Lisboa, no Hotel Méridien. Em resumo, tudo se passou da forma ao mesmo tempo mais simples e mais inesperada. Senti-me atraído para a cratera do vulcão extinto que existe em Clérmont-Ferrand, passeio que habitualmente fazia mas não no pino do Inverno. Estávamos a 13 de Dezembro de 1973 e não tardou, logo que cheguei ao local, em perceber porque me sentira impelido a ir até lá. Momentos depois surgia a «aparição»: de uma nave prateada - brilhando tal como o dinheiro brilha - saiu um ser em tudo semelhante aos humanos, só que de estatura mais pequena. Olhos amendoados, cabelos muito pretos e barba pontiaguda, sorriu-me com familiaridade. «De onde vem?» foi a única coisa que no momento consegui articular, mal refeito da surpresa. O insólito ente entendeu-me perfeitamente, já que, como depois me diria, fala todas as línguas da Terra. Aliás, ele voltaria muitas outras vezes e, no decorrer das nossa «sessões», foi-me dando conta da ciência que o seu povo - «os Elohim» - desenvolveram , 25 mil anos mais avançada do que a ciência da Terra.»
BASTA QUE CLAUDE TENHA VISTO
Assim, sem complexos de culpa ou de superioridade, como quem refere um acontecimento banal, Claude conta a sua história que, para muitos será apenas um conto fantástico e para outros o princípio do grande advento, de uma nova religião finalmente consumada - e que se caracteriza essencialmente, como avisa Claude, por rejeitar a ideia de «deus».
«Tudo se passa com factos concretos e nada do que anunciamos tem a ver com abstracções» sublinha.
Os cépticos irão sorrir e duvidar, vão dizer que não há provas documentais desse encontro e que se trata, eventualmente, de um embuste; os fanáticos talvez insultem Claude Vorilhon de tudo e mais alguma coisa, de mistificador e mistagogo; mas os crentes desta nova religião sem deus, que já se contam por algumas centenas de milhar em diversos países, não precisam de provas para acreditar e entendem que basta Claude ter visto.
Só dirá mal de Claude quem não o conhecer. A sua presença desarma os cépticos e os positivistas, inspira confiança e paz. Com uma desconcertante «naiveté», ele conta e reconta o encontro com o serzinho extraterrestre e já lá vão cinco livros com os desenvolvimentos da história. Num deles, não hesita em descrever como foi a sua ida ao planeta dos Elohim, facto que teria ocorrido - lembra ele - dois anos depois, em 1975.
LIBERTÁRIO E PACIFISTA
No Japão adoram os seus livros, quer sejam ou não pura fantasia: talvez, refere ele, pela tradição budista ainda muito viva nesse país, talvez porque a figura do extraterrestre era «asiatóide» (tez amarela como de pessoa com problemas de hepatite...) ou talvez porque os japoneses adoram tecnologia de ponta e o movimento dirigido por Claude ( os «raël»), apesar de libertário, pacifista, antimilitarista, antinuclear, anti-institucionalista, pró-amor livre, etc. reverencia a instituição científica estabelecida, a tecnologia moderna mais sofisticada e, no fundo, rende-lhe homenagem... Até o biofascismo das manipulações genéticas é exaltado e elogiado nos folhetos distribuídos pelo movimento.
Mas as contradições da doutrina é coisa que parece não incomodar este homem calmo, que veste de branco, que exibe um enorme medalhão ao peito com o «mais antigo símbolo do mundo», ou seja, uma estilização modernaça do «símbolo solar» conhecido por suástica, a mesma de que o Hitler também se apossou para lhe inverter as pontas e que - segundo este chefe espiritual que se identifica com Paracleto - foi recolhida do «livro dos mortos tibetano» ou «bardo todhol».
Não se pense, porém, que estas referências budistas e tibetanas encobrem um neoorientalismo envergonhado, tal como os que estiveram em voga nos anos sessenta. Nada disso. O livro agora saído em língua portuguesa, o tal que relata o primeiro encontro imediato de 3º grau com um extraterrestre amável e conversador é - se querem saber - uma monumental apologia da religião judaica, feita da forma mais insólita e que até agora escapara ao poderoso «lobby» internacional como medida excepcional de autopromoção.
Ou seja: atribuindo todas as revelações ao tal ser com o qual entabulou largas entrevistas - sob o rótulo genérico de «a mensagem» - Claude vai interpretando, com base na tecnologia moderna, as mais diversas passagens e situações do Velho Testamento.
Sansão, por exemplo, que costuma aparecer nos bares com a Dalila, teria nos cabelos a «poderosa antena dos seus poderes telepáticos».
Um exemplo de «controlo remoto de animais, por eléctrodo», seria o que aparece no I Reis, XVII, onde se escreve: «E os corvos traziam-lhe pão e carne pela manhã e pela tarde».
A famigerada multiplicação dos pães seria apenas - pasmem! - e prosaicamente, «um alimento sintético e desidratado que, adicionado de água, aumentou cinco vezes em volume.»
E assim por diante. Para todo o facto bíblico, miraculoso ou lendário, Claude encontra uma explicação científica, dada pelo seu querido marciano, na base dos modernos conhecimentos físico-químicos... É prosaico, coloca os «milagres» da bíblia em maus lençóis, mas temos de considerar que é uma ideia genial.
Ele aprendeu tudo, aliás, do ilustre visitante que sobre tudo o elucidou. Na base deste paralelismo, lançou Claude ao mundo, com bastante êxito de público, a julgar pela venda dos seus livros, o desafio: «Venham comigo que sou Paracleto, que sou o antecipador, preparar o advento do Messias, do espírito Santo. Venham comigo e não façam perguntas inúteis. A Geniocracia será um facto, sucedendo-se às anacrónicas monarquias e às decadentes democracias».
«LEMBREM-SE DE HIROXIMA»
Vistas bem as coisas, Claude não precisa de provar coisa nenhuma. Contou a história do encontro, depois analisa exaustivamente a Bíblia explicando os seus episódios na base da ciência experimental, afirma que os Elohim criaram o homem à sua imagem e semelhança e que voltarão para o salvar.
O resto é o conhecido efeito « bola de neve». No princípio, talvez fosse tudo apenas uma boa história de ficção científica. Depois Claude Vorilhon, chatiado de jornais e de automóveis, acreditou nela com tanta força que fez com que outros acreditassem também. Além do mais, há verosimilhança na exegese dos textos bíblicos, chega a haver verosimilhança, ainda que o episódio do encontro e subsequentes «contactos» percam totalmente o pé da realidade.
A verdade é que estava lançado um movimento avassalador em que os Elohim, citados no Velho Testamento, virão (até ao ano 2.035 o mais tardar...) redimir a humanidade de taras fascistas como o holocausto de Hiroxima.
Na data do dito, 6 de Agosto de 1945, todos os anos se realiza em França uma romagem ao vulcão de Clérmont-Ferrand, para ligar os dias que passam ao princípio do fim que está a chegar.
«As novas gerações já se esqueceram de Hiroxima» - comenta Claude, mas, segundo ele, a «geração de Hiroxima tem uma missão a cumprir»: não esquecer e preparar a Embaixada onde os Elohim, vindos do céu, resolvidos a voltar à Terra que foram eles a povoar, assentarão de novo arraiais, sem armas nem bagagens.
Mas sabem qual é o país predestinado para os receber? O Estado de Israel, por mais estranho e insólito que isso possa parecer na actual conjuntura petrolífero-bolsista e golfista. Mas se a ingenuidade de Claude, filho de pai judeu e de mãe católica, é um dos seus maiores encantos, um dos seus escudos invisíveis, as contradições da doutrina e da mensagem fazem dele um «poeta» da sua própria vida, um inventor do seu próprio mito, um imaginativo repórter de uma aventura imaginária mas que para ele foi intensamente vivida, que possivelmente nunca aconteceu mas que podia perfeitamente ter acontecido. E sem que daí viesse mal nenhum ao mundo, antes pelo contrário.
Hippy dos anos 70
Espécie de movimento «hippy» montado num OVNI, espécie de Maio 68 para uso dos povos hebreus e da sua bíblia «Tora», o movimento «raël» até defende o amor livre, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e detesta qualquer normalização ou institucionalização do tipo eurocrata pastoso... Compreendemos agora o seu êxito e porque inspirou Spielberg. A cronologia, no caso cinematográfico que logo ocorre quando se fala de «encontros imediatos», vem de facto em socorro de Claude: o filme de Spielberg é posterior em data ao encontro imediato de primeiro grau que Claude teve com o extraterrestre mensageiro dos Elohim.■
domingo, 28 de dezembro de 2008
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