sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

AFINIDADES ELECTIVAS COM MIGUEL DE UNAMUNO


GOOGLE REGISTA E OBRIGADO:

1. http://catbox.info/big-bang/gatodasletras/casos.htm
2. http://catbox.info/big-bang/gatodasletras/+cat%20note-book+.htm
3. http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&cr=countryPT&q=+site:pwp.netcabo.pt+casos-limite+na+literatura
4. http://catbox.info/big-bang/gatodasletras/casulo1/UNAMUNO.HTM
5. http://catbox.info/big-bang/countdown/laranjei.htm
6. http://catbox.info/big-bang/oescriba/+anti-prosas+.htm
7. http://catbox.info/big-bang/gatodasletras/casulo1/nietzsche.htm
8. http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&cr=countryPT&q=+site:pwp.netcabo.pt+o+desespero+dos+hedonistas




FILES AC AFINS:
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1-1 92-02-03-ls> leituras do afonso - sábado, 12 de Abril de 2003-novo word - laranjei> [solta - «Largo - 1745 caracteres]

EVOCAÇÃO DE MANUEL LARANJEIRA, CONSCIÊNCIA DO PESSIMISMO NACIONAL
3-2-1992

[(*) Este texto de Afonso Cautela terá sido publicado no «Diário do Alentejo», suplemento «Largo» , dirigido por Miguel Serrano, em data por determinar ]

Representante do «pessimismo nacional», como ele próprio o designou, Manuel Laranjeira, médico, filósofo e escritor, morreu (suicidou-se) aos 35 anos, em 1912, praticamente inédito. Lentamente, sazonalmente, a edição recupera-o como um caso perdido e um precioso achado, através de três das suas colectâneas, textos reunidos e cremos que póstumos: «Diário», «Prosas Perdidas», «Cartas».
São estes dois últimos títulos que voltam agora em reedição Relógio d'Agua, para nos confrontar de novo com a estranheza deste meio estrangeirado no mundo e em qualquer pátria.
Laranjeira incarna a frustração pessoal de muitos ideais e mitos da civilização cristã ocidental (contra a qual geneticamente se encontrava incompatibilizado desde anteriores reencarnações) mas, curiosamente, e na perspectiva em que o tempo já o colocou, podemos ver hoje que ele reflecte também as mais profundas frustrações de um povo que, sem querer e sem saber, sintonizou.
Mas, tal como Laranjeira, também o povo português vive amarrado a esses fantasmas, sem compreender que a sua pátria está algures, no centro da sabedoria. Como o seu homólogo e contemporâneo de Salamanca, Miguel de Unamuno, logo bem notou, poucos homens há que «tenham juntado a uma inteligência tão clara e penetrante um sentimento tão profundo.
Nele, como em Antero, a cabeça e o coração travaram renhida batalha.»
Como Antero também está na moda, mercê de uma universidade açoriana que se revê separatisticamente no génio desse poeta, humanista e apóstolo, perdoando-lhe o tresloucado acto, temos com Laranjeira o dueto do «pessimismo nacional» que ajuda, como um espelho, ao diagnóstico e à radiografia do nosso destino colectivo.
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(*) Este texto de Afonso Cautela terá sido publicado no «Diário do Alentejo», suplemento «Largo» , dirigido por Miguel Serrano, em data por determinar. Foi republicado no jornal «A Capital», «Leituras de Verão», 12-8-1991
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1-1 - 90-09-04 – ls > leituras do afonso - sábado, 12 de Abril de 2003-novo word - entropia>
RAÍZES DA DECADÊNCIA

O DESESPERO DOS HEDONISTAS (*)

[(**) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Livros na Mão», 30-10-1990+-]

4-9-1990

A palavra «entropia» ainda não estava na moda quando Miguel de Unamuno escreveu «Del Sentimiento Tragico de la Vida», que agora aparece em nova tradução portuguesa(*). Em 1953, a editora Educação Nacional, do Porto, publicara a versão de Cruz Malpique, mais literal e académica do que esta que o Círculo de Leitores agora apresentou.
Para o filósofo de Salamanca - também romancista, poeta e dramaturgo - a condição humana já era entendida como maldição e prova, no que andou muito perto dos «pessimistas» como Schopenhauer, Nietzsche, Leopardi ou Kierkegaard e também de muitos que se viram englobados no rótulo de «existencialistas».
Mas de uns e outros ele se demarcou, pela intuição central que o título desta obra particularmente expressa: o «sentido trágico da vida» seria o sentido entrópico da vida que regula todos os sistemas morais do Ocidente, baseados num cego, obstinado e estúpido hedonismo. Essa seria, no Ocidente, a nossa «doença», que levámos séculos a difundir pelo Mundo, como a maior pandemia da História. Perdemos as raízes da sabedoria, que consistia exactamente em saber que o homem é energia e que toda a ciência se deverá resumir, afinal, em conhecer a arte de administrar essa energia.
A nossa «doença» chama-se «ignorância» e daí, dessa ignorância, o sentido trágico e cego do caminhar por este mundo. Ler Miguel de Unamuno e o seu diagóstico, é ler os sintomas exacerbados da Doença que se reconhece, confessa mas não ultrapassa, e isso ainda por preconceito «cultural».
Fala Unamuno dos «Upanishads» mas o seu despeito irritado logo se revela nesta acusação ao monismo das cosmologias extremo-orientais que da Energia sabiam como ninguém mais voltou a saber: «aquilo a que eu aspiro, não é submergir-me no grande todo, na Matéria, ou na Força, infinitas e eternas, ou em Deus. Aquilo a que eu aspiro não é a ser possuído por Deus, mas a possuí-lo, a fazer-me Deus, sem deixar de ser o eu que vos digo ser neste momento. »
A «doença» ocidental, a que Unamuno chama «tragédia», um tanto exageradamente, caracteriza-se por criar essa espécie de catarata ideológica que impede de ver tudo quanto não seja e não ajude ao progresso da própria doença.
Para lá do interesse quase mórbido que a sua fascinante leitura suscita, especialmente aos que gostem de romances policiais, para lá do muito que se aprende e sofre neste testemunho humano de beleza inigualável que é o livro de Unamuno, importa ao militante da Heresia detectar algumas passagens francamente demonstrativas do apego ao erro e da rejeição apriorística das raras janelas terapêuticas que se podem abrir.
Pobres filósofos como este «trágico» Unamuno que, na imensa noite e na imensa doença da «civilização» ocidental, marraram contra as paredes do cárcere, não vendo que eram de vidro..., muitas vezes tendo na mão o amuleto - a intuição central da entropia cósmica - capaz de exorcismar angústias, revoltas, desesperos, mas sem o saber utilizar. Mais: alguns deles, como Unamuno, tiveram o amuleto na mão e deitaram-no fora.

Os filósofos ditos «pessimistas» e, em séculos mais recentes, os «existencialistas», com seus gritos, aflições, insónias e calafrios, são bem a imagem, o sintoma de uma «doença» cada dia mais incurável e de que a Poluição e suas sequelas é apenas um dos sintomas mais ridículos e insignificantes. Mas foi ela, a Poluição, que obrigou algguém a descobrir a palavra Entropia. Valha-nos isso.
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(*) «O Sentimento Trágico da Vida», Miguel de Unamuno, Ed. Círculo de Leitores
(**) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Livros na Mão», 30-10-1990+-

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1-2 <> leituras do afonso - sábado, 12 de Abril de 2003-novo word -3060 caracteres

UM POVO DE SUICIDAS (*)
[7-1-1991 ]

(***) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Leituras de Verão», 27-8-1990

Criar perspectiva crítica para nos entendermos como povo nacional distinto de outros povos, no contexto da Península Ibérica, é um dos melhores benefícios que se podem colher desta obra (*) de Miguel de Unamuno, que a Assírio & Alvim resolveu, em boa hora, mandar traduzir e publicar.
«Por Terras de Portugal e da Espanha» impunha-se, como um dever patriótico.
Entre os artigos que o célebre catedrático de Salamanca (alma gémea de Teixeira de Pascoaes, como em vida de ambos puderam confirmar) consagra a Portugal, figura aquele que, radicalmente, nos denuncia no nosso mais persistente complexo colectivo, aquele que nos classifica, em estilo de anátema, como «um povo suicida». A mais recente história contemporânea, sem falar da antiga, parece que bem comprova a tese de Unamuno. Haverá quem considere este diagnóstico um estigma demasiado radical, outros dirão que ainda é pouco e outros que não tem nada a ver com a chula minhota ou o corridinho algarvio, tão alegres coitadinhos.
Em qualquer dos casos, acompanhado à guitarra da ditadura ou a toque de pífaro democrático, o nosso destino coincide com a visão realista de Unamuno, queiram ou não os optimistas profissionais, que vivem distribuindo óculos cor-de-rosa ao povo.
O autor de «Sentimento Trágico da Vida» (**) encontrava, em Portugal, como é óbvio, um bocado da sua própria alma, pouco dada a quimeras. E desse encontro ele falou, dessa sintonia deu testemunho. Se os portugueses conseguissem olhar-se com metade da atenção e da lucidez com que Miguel de Unamuno nos psicanalisa, não andaríamos talvez tão perdidinhos de nós próprios, das nossa raízes e da nossa identidade, com os escritores todos da moda à procura da «portugalidade» perdida nos areais marroquinos do desejado.
Ninguém é profeta na sua terra e muito menos analista dos seus próprios defeitos e qualidades. Sempre com o nariz no ar, à procura dos outros - povos, terras e negócios - os portugueses têm tido, no entanto, a sorte de haver quem sobre eles se debruce, com o carinho de um irmão, a severidade de um pai e a lucidez de um mestre. Miguel de Unamuno, significa para nós esse olho clínico que nos ajuda, pela consciência do que não queremos assumir (o gosto da morte), a realizar o nosso próprio diagnóstico.
Em «Por Terras de Portugal e da Espanha» ele examinou-nos e deu o veredicto: nem tudo está perdido, ainda vamos a tempo de nos encontrar. É só questão de olho.
Dizer que é José Bento o responsável pela tradução, notas e prefácio, significa só por si um atestado de qualidade desta edição com que a Assírio & Alvim se honra e, como povo ibérico, nos honra.
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(*) «Por Terras de Portugal e da Espanha», Miguel de Unamuno, tradução de José Bento, ed. Assírio & Alvim
(**) Existem duas edições em português desta obra de Unamuno: uma de 1953, em tradução de Cruz Malpique, na editora Educação Nacional; e uma muito recente, de Artur Guerra, lançada pelo Círculo de Leitores
(***) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no jornal «A Capital», «Leituras de Verão», 27-8-1990

sábado, 25 de dezembro de 2010

W.S. BURROUGHS NA BIBLIOTECA DO GATO


1-4 - burrough-md-1-2>quinta-feira, 6 de Novembro de 2003 - 90-07-07-ls> leituras do afonso - quinta-feira, 10 de Abril de 2003- novo word 3838 caracteres - burrough-ls> - livros na mão
7/Julho/1990

WILLIAM SEWARD BURROUGHS: O FIM DA «GRANDE FARRA»

De que teriam morrido civilizações como a do Antigo Egipto? De fome ou fartura? De carência ou pletora?
Exercício de imaginação ( e boa ideia para aproveitar em narrativa de ficção) é, de facto, tentar saber como se deu o fim de alguns impérios que deixaram marca e a que ainda podemos recorrer lendo os destroços . O resto que resta da «grande farra».
Contrariando a analogia que automaticamente se tende a fazer com a civilização actual - morta pela poluição -, há necessidade de colocar mil e outras hipóteses igualmente verosímeis sobre a causa que pode ter levado civilizações inteiras a ruir como um castelo de cartas.
No livro «As Terras do Poente», William Seward Burroughs imagina uma forma possível, entre várias, que levaram o Egipto ao estado de múmia... O facto de haver, em diversos pontos do globo, toponímias iguais ou semelhantes, terá induzido o escritor a pensar numa causa comum que contribuiu para dizimar sociedades inteiras, ontem homogéneas mas que hoje nos aparecem, sob a forma de extensos desertos, dispersas no espaço e distanciadas no tempo. É mesmo provável que estivessem ligadas por laços já hoje indetectáveis e que formassem então a mesma e única rede de interrelações.
O tema da «contaminação orgânica» seria, no entanto, comum a todas essas «mortes». William S. Burroughs levanta, em «As Terras do Poente», a hipótese das centopeias gigantes, que, proliferando com tal força e velocidade, teriam comido tudo o que era ser humano. Ele retira dessa hipótese, como se calcula, surpreendentes ilacções romanescas. Tudo isto a partir de um topónimo que, existindo no território dos Estados Unidos, existia também no Egipto dos faraós e dos escribas.
Com a sua arte descritiva semelhante à lâmina afiada de um bisturi, William S. Burrouhgs não nos poupa a cenas-limite de verdadeiro horror, com as centopeias devorando seres humanos e a sairem, com suas cabeças agitadas e frenéticas, do corpo das vítimas...Qualquer produtor de filmes de horror estará, com certeza, atento, para aproveitar cenas tão garantidamente repugnantes. Tão gratificantes, como diria o Ministro da Alimentação.
Constante, nos quadros abjeccionistas de William S. Burroughs, é a exibição dos órgãos sexuais, expostos também à voracidade das bichas selváticas e a uma constante entropia que sugere a essência da malignidade, dos escombros e da morte. A ruína desta civilização. O fim da «grande farra».
Sob a aparência de um relato coloquial, Williams S. Burroughs descreve, em constante obsessão, a decadência, o apodrecimento, a decomposição «orgânica». Com tintas nada suaves, diga-se, antes com uma expressa a propositada violência visual. O que não pode deixar de fascinar, tarde ou cedo, um produtor de cinema.

Cada um seu paladar

O escritor de «As Terras do Poente» é perito em procurar exactamente aquilo que repugna ao paladar, à vista, enfim, aos cinco sentidos que ainda conseguem reagir, no amolecimento e embotamento generalizado que caracteriza a sociedade de consumo (ou do vómito? perguntará Burroughs), já bem longe das metas hedonistas que sonhou, dos prazeres que julgou gozar.
Nesse aspecto se diria que Burroughs baniu qualquer idealização romântica e que exagera ao seleccionar apenas o que é ostensivamente repugnante (aos cinco sentidos) e traumatizante à sensibilidade. Uma coisa parece certa: com esse inventário de horrores, o autor pretende traduzir a «grande farra» que é a sociedade de consumo moderna, grande farra que será a forma pela qual esta civilização irá perecer, e dar a alma ao criador, ungida de todos os sacramentos, tal como a egípcia pereceu, apesar de ser herdeira directa e dilecta dos deuses... Pela boca morre o peixe
... e o Planeta do «fast-food» também.
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1-3 - 92-02-10-ls> leituras do afonso -quinta-feira, 10 de Abril de 2003 - 8031 caracteres burroug1> livros - beja

O MAL NA LITERATURA: WILLIAMS BURROUHGS COMEÇA A SER ACTUAL(*)

[10-2-1992]

Qualquer dia temos que fazer a notícia necrológica de William Burroughs, maldito até ao fim, nos seus actuais 77 anos sobrevividos, e então é o momento, entre todos solene, de proclamar que ele «foi um dos mais importantes escritores de todos os tempos» incluindo os vindouros, e lamentar que não lhe tenha sido atribuído o Prémio Nobel. Nunca se sabe quando esta omissão do Nobel é vista como um elogio ou como uma afronta ao chorado autor em causa...
Não vai haver tempo, então, para pôr em dia a leitura do seu verbo vulcânico e torrencial, pormenorizar os aspectos circunstanciais e publicitários da sua vida maldita de maldito escritor. Depois de morto, sim, tudo isso poderá concorrer para o vender melhor.
Temos em tradução portuguesa -- e traduzir Burroughs é fazer [o pino] equilibrismo em cima de um cabo de alta tensão -- «As Terras do Poente», «Cidades da Noite Vermelha»(*) e «Naked Lunch», banquete que o saudoso João Palma-Ferreira teve ainda ocasião de verter para a editora Livros do Brasil com o infeliz título «Alucinações de um Drogado».
Pois bem: quando Burroughs, nascido em St Louis, em 5/2/1914, esticar o pernil, vai ser difícil afirmar, numa obra com 47 títulos, de 1953 até hoje, se está lá tudo quanto os seus panegiristas, entre os quais se podem contar o português Palma-Ferreira e o norte-americano Norman Mailer, dizem estar. Tudo e mais alguma coisa, até o que ainda não existe. Por isso em vez de escritor, muitos preferem considerá-lo profeta. Vai ser impossível a um ser humano abranger (abraçar) esta prodigiosa torrente de lava que, além de queimar, não é propriamente de um perfume «made in Paris».

O PAPEL DOS CHEIROS

Aliás e como se sabe, os cheiros têm, nas páginas de Burroughs, um papel característico, ainda que todo o mundo sensorial o tenha, mercê de um génio descritivo de imagens que supera toda a câmara cinematográfica. Isto não impede que o realizador Cronenberg, sempre à cata de moscas, não esteja tentando a sua chance de adaptar o «Naked Lunch», título de W.B. mais vendido, mas não sei se o mais profético.
No aspecto de prever as grandes vagas de fundo que só anos depois a história iria comprovar, ponto por ponto, «Cidades da Noite Vermelha», na magistral tradução de Maria Dulce Teles de Menezes (na companhia de Salvato), parece-me muito mais pesado de consequências. Publicado em 1981, está lá já, nas «Cidades da Noite Vermelha», a epidemia do século, com uma nitidez de contornos perfeitamente alucinante. De tal maneira, que se torna crível a hipótese colocada por alguns observadores de a tal «epidemia do século» ter sido decalcada e montada de acordo com o guião ficcionado por Burroughs. Só para deslindar esta questão - se foi a história que copiou Burroughs ou ele que profetizou a história - muitas equipas de investigadores seriam necessárias. Entretanto, nas escassa notas de referência que têm aparecido em português sobre o «maior escritor do século XX» -- assim se inclinava a considerá-lo o nosso João Palma-Ferreira -- é possível respigar novos itens que dão novas pistas para percorrer, sem demora e exaustivamente, o que bem pode vir a ser considerado o sucessor de James Joyce no «guiness» dos escritores mais citados e cotados.

PERGUNTAS INDISCRETAS

Que tipo de genealogia, por exemplo, liga este cabecilha da geração «beat» a Conrad, Genet, Dante, Carlyle e Swift?
Até que ponto a «técnica da montagem» é fácil e pode repetir-se como receita, e até que ponto só por ela seriam possíveis obras como o «Ulisses» de Joyce?
Que tem a ver Burroughs com a sacralização e a santidade da Abjecção, tão nítida, por exemplo, em Genet?
Será Sade um dos seus antecessores, ou nunca o conheceu de parte nenhuma?
Na geração «beat», teria sido ele a fazer da viagem o símbolo iniciático por excelência, ou esse papel deve, com maior justiça, atribuir-se a Jack Kerouack?
Terá razão Norman Mailer quando proclama o autor de «Naked Lunch» «o único romancista americano vivo provavelmente possuído pelo génio?»
Mais: seria ele e não Artaud a levar até às últimas consequências a literatura como experiência-limite, o abjeccionismo contido nas premissas do surrealismo europeu?
Quem se aventurar por este pântano ardente, por este pesadelo sem despertar, por este «resfolgar do universo, sem sono nem tréguas nem pausa» que é a obra de Burroughs, deverá apenas tomar algumas precauções prévias, demarcando o terreno, por exemplo, com datas de referência, para não se perder totalmente e poder regressar à «vida normal», à «civilização», à histérica sociedade do consumo.
Note-se que, quando outro «beat», Allen Ginsberg, publicava «Howl» (1956) e Jack Kerouack «On de Road» (1957), já Burrouhgs estava metido até ao pescoço nos alucinogénicos e instituído guru, eminência parda, mito entre os mitos da «beat generation», ainda que o seu «Naked Lunch» só surgisse em Paris em 1959.
Como diz um crítico, as novelas de Henry Miler parecem suaves e humanas se comparadas à inaudita violência (visual e nem só) de Burroughs. Que pena Bataille não poder incluí-lo em «A Literatura e o Mal», o livro que ainda preferimos como o manifesto possível da famigerada quão impossível modernidade.
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(*) «As Terras do Poente», William Burroughs, Ed. Presença
«Cidades da Noite Vermelha», William Burroughs, Ed. Difel ■
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1-1 - 92-02-09-ls> leituras do afonso - quinta-feira, 10 de Abril de 2003-novo word
-beat> 1119 caracteres

9-2-1992

LEITURAS DE VERÃO

ESTÃO BEM E RECOMENDAM-SE, SOBREVIVENTES DA «BEAT GENERATION»

Quando os «yuppies» pensavam ter vencido definitivamente os «hippies», quando os profetas dos vários neoacademismos dos anos 80 já tinham dado por morta e enterrada a geração «beat» que, nos Estados Unidos da América, mandou o estilo às urtigas, vergastou o sistema como pôde e quase se converteu ao budismo Zen, tal o asco que votava à ciência do capitalismo e ao capitalismo da ciência, eis que dois nomes cimeiros da dita geração «beat», Burroughs e Kerouac (*), renascem das cinzas.
Com edição recente em português, o primeiro, em artigo laudatório, em semanário de letras, o segundo (de quem a editora Ulisseia, há muito tempo, publicara o inesquecível « On the Road», com o título português «Pela Estrada Fora», ainda hoje paradigma de uma mitologia geracional), tudo indica que a geração «beat» continua de boa saúde e recomenda-se.
Quer dizer então que temos mais um morto-vivo, uma geração arrumada na prateleira mas ainda capaz de virar o «establishment» do avesso? Assim seja, se assim for.
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(*)«As Terras do Poente», William S. Burroughs, Editorial Presença
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1-1 quinta-feira, 5 de Dezembro de 2002 - cucos-3> diario90

A METÁFORA ORGÂNICA E AS (MINHAS) IDEIAS

Lisboa, 18/Agosto/1990 - Era fatal. Agora que a metáfora orgânica surgiu como ideia-mestra da narrativa que me propunha (proponho) escrever, começo a ver essa ideia aproveitada e usada em tudo o que é escritor ou escriba, e por tudo quanto é sítio.
Até um ensaísta como Edgar Morin, de formação científica tão ortodoxa e tão crítico relativamente aos vitalismos, tão certo dos dados exactos das ciências positivas, até ele usa a «metáfora orgânica» quando, na obra «Questões do Nosso Tempo» (1981), compara o sistema de uma teoria (ou de uma doutrina) a um sistema orgânico (um ecossistema) que cria as suas próprias autodefesas contra os «vírus» das influências e críticas, externas ou internas, exógenas ou endógenas.
Pensei que um ensaísta com as responsabilidades «escolares» de Edgar Morin não quisesse rebaixar-se à sedução de ver todo o cosmos (e todos os microcosmos) como uma enfiada de ecossistemas (tipo boneca chinesa), à tentação de usar símiles do corpo e dos organismos para analisar fenómenos políticos, ideológicos e sociais.
William Burroughs, no livro «Cidades da Noite Vermelha», desenvolve a mesma intuição - fazer passar todas as vivências, ideias e terrores pelo metabolismo. Mas em Burroughs trata-se de uma coincidência e não de um rapinanço, de uma intuição fulcral ou crucial e não de um leit motiv ou de um fait-divers. Aliás, foi lendo as suas «Terras do Poente» que se me consolidou a ideia da importância do metabolismo, numa literatura de vanguarda, como aliás já o disse, há dias, a propósito de Rabelais e do seu gigantesco «Pantagruel».
Há, com Borroughs e Rabelais, uma identidade de objectivos, pensamento e sensibilidade que explica a coincidência e me lisonjeia.
Mas já me é muito mais difícil aceitar (engolir) que o senhor Kundera, no romance « A Imortalidade» (*) se divirta também com uma metáfora orgânica, ao contar a anedota ocorrida com o casal Salvador Dali-Gala: colocados, ao ir de férias, perante a perplexidade de não saber onde deixar um coelho de estimação que adoravam, Gala resolve realisticamente o problema dando de comer a Dali o coelho num delicioso guisado. «Deve comer-se o que se ama» é a lição moral que indirecta e vagamente Kundera extrai deste episódio, desta anedota surrealista.
Mas a questão em Kundera é se o melhor da sua literatura de consumo não serão as anedotas que ele conta ou invoca, nem que para isso tenha de as pedir emprestadas a Dali ou a Goethe. É que, mesmo para plagiar, há que estar naturalmente investido de autoridade moral e poética para o fazer, o que não me parece ser o caso de Kundera.
De qualquer modo, a ideia de um «canibalismo» latente em todo o acto de amor começa a escapar-me das mãos como uma intuição querida de tantos anos e que supunha minimamente original sem que ainda não me tivesse sido rapinada pelos do costume.■

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

IDEIAS & IDEIAS PARA 2013


IDEIAS ANTES DA HIPÓTESE VIBRATÓRIA

RECOLHA DE VÁRIOS LIVROS E AUTORES POR AFONSO CAUTELA

52 milhões de crianças no Mundo trabalham. Há crianças em minas de carvão 8 horas por dia a 280 metros de profundidade, mas a OIT clama que o desemprego de adultos sobe em flecha. *****
A «revolucionarização» dos revolucionários é a condição decisiva para a «revolucionarização» das massas.- Rudi Dutschke
A anarquia é a ordem. *****
A civilização, tal como existe hoje, foi construída contra a Natureza e não em colaboração com ela. *****
A concepção de que a humanidade deve dominar e explorar a Natureza provém da dominação e exploração do homem pelo homem.- Murray Bookchin, in «Ecology Action East», 1969
A cultura, na ordem intelectual, é o que nos permite ir encontrar as coisas onde elas estão. - Georges Duhamel
À escala cósmica só o fantástico tem possibilidades de ser verdadeiro.- Teilhard de Chardin
A espiral foi figura corrente da decoração jónica.
A filosofia da história que nos interessa é essencialmente o conhecimento do fim dos tempos.- Pierre Guérin
A Holanda importa água da Noruega; os Estados Unidos, do Canadá, e a cidade de S.Francisco pensa importá-la da calote polar sob a forma de icebergs.- César Vítor e Alfredo Aveline, in « Não à Industrialização Selvagem»
A ideia de uma arte separada do seu criador não está somente fóra de moda. É falsa.- Albert Camus
A imaginação assume o poder. *****
A literatura é o essencial, ou não é nada.- George Bataille
A literatura é um dos mais tristes caminhos que levam a tudo.- André Breton
A maior parte do nosso tempo passa-se a perder tempo.- De Ségur
A maior possibilidade consiste no controle da nossa sociedade humana por inteligências extraterrestres automatizadas.- Roger Mac Gowan
A máquina de força do Estado, a burocracia e o poder executivo são os guardiães naturais da ordem, da calma e da segurança da sociedade actual.- Rudi Dutschke
A menos que se verifiquem mudanças fundamentais nas opções de todos os governos, o mundo correrá inexoravelmente para a catástrofe antes de um século. Relatório do MIT, Janeiro de 1972
A missão do «intelectual» é esclarecer as gentes: não é governar. O espírito só é espírito quando destituído de mando, quando privado de poderio. - António Sérgio
A não-violência é um fracasso. O único fracasso maior é a violência.- Joan Baez, cantora «folk», 1967
A nossa luta deve ter apenas um objectivo: sair da caverna.- Henry Miller
A patafísica, ciência das soluções imaginárias, que estuda as leis que regem as excepções.- Alfred Jarry
À pequena parte da ignorância que ignoramos e classificamos damos o nome de conhecimento. - Ambroise Bierce
A poesia de Lautréamont, bela como um decreto de expropriação.- Aimé Césaire
A poesia que tende a transformar a sociedade fechada em sociedade aberta.- «A Afixação Proibida», 1953
A política não é o reino do amor, nem da amizade, nem da verdade, mas pura e simplesmente o reino do poder. E o poder é o exercício da dominação sobre o «outro», a influência que o indivíduo exerce sobre o próximo. - Manuel Maldonado Dinis
A rentabilidade máxima (o lucro) não se obtém economizando os factores de produção, mas sim através do desperdício e das destruições que asseguram a «conveniente» rotação do capital... É usar e deitar fóra, mudar por mudar.- Michel Bosquet, in «Ecologia e Política»
A revolução acaba a partir do momento em que é preciso sacrificar-se por ela. *****
A revolução estudante é uma revolução cultural e moral. Talvez uma utopia. Mas as utopias são as realidades de amanhã. *****
A revolução também combate pela beleza. Ajudem-nos a expulsar a fealdade do Mundo. *****
A saúde dos surrealistas escondeu-lhes a coerção exercida sobre o homem pelo corpo. A sua livre respiração não lhes permitiu ver que, também aí, no corpo, havia um condicionamento «à briser». Os surrelistas a Antonin Artaud estão separados pelo corpo.- Georges Charbonnier
A sinceridade é a origem do génio.- BoernerNão procuro, encontro. - Picasso
A televisão é um meio de comunicação diabólico. Nunca devia ter sido inventada. Mas já que temos de viver com ela, tentemos fazer alguma coisa com ela. Richard Burton, actor e sócio da Harlech TV, 1967
A Terra é o berço da humanidade, mas é impossível passar a vida toda num berço.- Frase de Ziokovky citada por Nesmeyenov, presidente da Academia de Ciências da URSS, num discurso de 1957
A Terra inteira cheira a consciência putrefacta. - Adolfo Casais Monteiro
A Terra não é nossa, foi-nos emprestada pelos nossos netos.*****
A única ciência é descobrir o crescimento do universo. - Teilhard de Chardin, 1923
A única maneira de descobrir os limites do possível é aventurar-se um pouco para lá deles, no impossível.- Arthur Clarke
A Unidade une toda a Multiplicidade, mas a multipliciade não une a unidade. - Mestre Eckardt
A verdade não se pensa - sabe-se; o que se pensa é a explicação da verdade.- António Maria Lisboa
A vida cria a ordem, mas a ordem não cria a vida - Saint-Éxupéry
A vida é dor. Sofrer é conhecer/ Só os olhos que choram sabem ver. - Teixeira de Pascoes, «Vida Etérea»
Acontecer alguma coisa que não tenha sido prevista é, para mim, actualmente, a coisa mais bela que pode suceder a quem trabalha durante todo o dia.- Henry Moore
Acredito que a actual crise ecológica seja mesmo escatológica: uma crise a respeito do futuro.- Kenneth Boulding
Anda tudo a querer entrada grátis no espectáculo mais caro do universo: a transubstanciação da matéria.- Mário Cesariny de Vasconcelos
Antes de 20 anos, a humanidade terá restabelecido contacto com as poderosas inteligências extra-terrestres. Estas não são, sem dúvida, seres orgânicos, mas máquinas quer pensam. Tudo nos induz a crer que estas inteligências nos observam já. Tudo nos convida a imaginar que nos governam. Tudo nos deveria incitar a estarmos preparados para tal acontecimento.- Roger A. Macgowan, arsenal de Redstone (Alabama)
aritmeticamente a dor do mundo. - Albert Camus
As coisas são mais fáceis de dizer do que de fazer, a não ser que sejas gago. - R. Lewton
As definições seriam muito boas, se não usássemos palavras para as fazer. - J.J. Rousseau
As directrizes políticas traçadas para elevar ao máximo o crescimento e, por consequência, a riqueza, podem afectar de tal modo as condições de vida, tanto física como psicológica, que a riqueza corre o risco de se tornar muito menos valiosa do que se pretende.- Roy Jenkins
As duas grandes florestas equatoriais - a Amazónia e as da África Central - desempenham no equilíbrio climático do planeta um papel que se pode suspeitar como sendo essencial- René Dumont, «O Crescimento da Fome»
As ideias não valem pelo que os homens fazem delas, mas pelo que elas fazem dos homens.***
As mudanças de clima são tais, que os especialistas mais optimistas reconhecem a quase certeza de uma colheita catastrófica antes de decorrido um decénio. Se as políticas nacionais e internacionais não tiverem em conta estes revezes, a mortalidade pela foma será maciça.- René Dumont, in « O Crescimento da Fome», pg. 16 da edição portuguesa
As regiões subdesenvolvidas do mundo são enormes campos de concentração da miséria e da fome em época de paz.- Josué de Castro, Maio de 1963
Assim eles todos foram profetas, segundo graus diversos mas idênticos no isolamento, e foram-no nos dois sentidos da palavra: anunciadores incompreendidos do que ainda não adveio; visionários da realidade eterna, escondida sob a realidade aparente, do mistério que o espelho infiel da existência deforma.- Albert Béguin
Assumir o mais possível de humanidade, eis a boa fórmula. - André Gide
Avec les mots, avec les armes.- René Bertelé
Bem pouco se importavam com isso os «pioneiros», já que a ciência nascente acabava de demonstrar que possuía talentos excepcionais; supunha-se que ela estava apta a resolver todos os problemas técnicos, económicos e até políticos. A química aranjava adubos químicos, ao tornar solúveis os fosfatos naturais pela reacção do ácido sulfúrico. Sem ver que os metalóides tóxicos e os metais pesados presentes nos nossos superfosfatos, arriscam-se, pela acumulação prolongada, a envenenar os solos. E que as reservas de fosfatos não durarão muito tempo.- René Dumont, in «Crescimento da Fome»
Caro presidente, o amor e a poesia são vencedores em todos os lances. A guerra é sempre uma grande e pesada perda. Eu sou poeta, amo e ganho. E você?- Philip Whalen
Com as «Poésies» de Lautréamont vão ser postos os fundamentos de uma ciência que sintetizará a moral, a filosofia, a poesia; uma moral que será a filosofia da poesia:«Uma filosofia para asa ciências exista: não existe uma para a poesia. Não conheço moralista que seja um poeta de primeira ordem». *****?
Como estar seguro, com efeito, de que a exploração da forças não intelectuais não degenere em niilismo furioso? A questão merece ser posta e não estou certo de que muitos jovens tenham reflectido sobre ela.-Theodore Roszak
Como processo de obtenção de dados científicos sobre a Lua, a viagem (da Apolo 8) é simplesmente idiota. Sir Bernard Lovell, 1968
Compreende-se por isso que a revolta não possa dispensar um estranho amor. - Albert Camus
Cortamos manteiga com uma serra mecânica.- Amory Lovins
Cultura é o que fica, quando esquecemos tudo -E. Herriot
Da mesma maneira que o catavento necessita de vento, a tecnosfera vive da ecosfera. Manifesto da revista «Meio Ambiente», Brasília
Deus não joga aos dados. - Einstein
É às palavras-actos, não às palavras que supõem actos, que me dirijo.- António Maria Lisboa
É muito mais difícil desenvolver uma cidade, do que enviar um homem à Lua.- Professor Colin Buchanan, 1968
É no interesse da sociedade pôr a pílula nas máquinas automáticas e os cigarros sob receita médica.- Dr. Malcolm Potts, secretário médico da Federação Internacional de Planificação Familiar
E o ódio ao ódio não é o amor? - Pascoaes
Em literatura, a biografia aprofunda a ciência da personalidade. - Stefan Zweig
Em meio século, o nosso planeta adquiriu uma característica que não pode ter passado despercebida a outra civilização que nos observasse: de uma intensidade praticamente nula nas frequências de rádio, a Terra passou, em cinquenta anos, a ter uma intensidade igual à do sol em período calmo: o somatório das emissões publicitárias, dos jogos televisionados, das informações, das emissões estúpidas ou geniais, fez com que a Terra passasse da «mediocridade» dos planetas onde nada acontece que possa interessar os Galácticos à «mediocridade das civilizações galácticas.» Chegou, portanto, o momento de modificarmos a nossa visão do Universo, hoje que a nossa civilização se tornou «perceptível» para outros galácticos. Jean Sendy, in « A Era do Aquário»
Em qualquer ponto de nós próprios, fazemos parte do mesmo homem. - Swedenborg
Estamos em relação mágica com a Natureza. A humanidade criará seres conscientes desta relação. - Jean Rostand
Eu pergunto para onde nos encaminhamos nós, se continuarmos a despejar nos rios e nos mares quantidades cada vez maiores de pesticidas e insecticidas?- Sicco Mansholt, in «Ecologia, Caso de vida ou de morte»
Eu sou eu e a minha circunstância.- Ortega Y Gasset
Falamos com o computador como se ele fosse muito inteligente. Na verdade é o mais abissal idiota do mundo. Temos de lhe explicar as coisas mais simples.- Robert Thorby
Foram honrados. Foram simples. A estes tais chamo eu poetas. - Antero de Quental
Há mais poesia fóra dos versos que dentro deles, mais religião fóra da igreja que dentro dela, mais amor fóra do casamento que dentro dele.- Robert Frost
Há poucas coisas que corrompam tanto um povo como o ódio. - Papa Paulo VI, 20/Maio/1973
Há qualquer coisa de obsceno que a crise ecológica seja atribuída ao «crescimento populacional» por uma nação - os EUA - que tem pouco mais do que 7% da população mundial mas que consome mais de 50% dos recursos mundiais.- Murray Bookchin, in «Ecology Action East», 1969
Há séculos condenavam-se os histéricos, um tempo virá em que os criminosos serão tratados.- Albert Camus
Há só um modo de verdadeiro conhecimento: a descida em si mesmo. - Nora Mitrani
Há só um passo do sublime ao ridículo, mas não há caminho em contrário do ridículo ao sublime.- L. Feuchtwanger
Homo sum, nihil humanum a me alienum puto. - Terêncio, Heautontimoroumenos, linha 17
Ideias muito simples só estão ao alcance de espíritos complexos. - René de Gurmont
Inventei a máquina de calcular, porque não sabia calcular.- Paul Painlevé
J'appelle experience un voyage ao bout du possible de l'homme.- Georges Bataille
Le malheur des hommes est la merveille de l'univers. - Georges Bernanos
Mantermo-nos neste mundo não seria um fardo mas um prazer, se nós soubéssemos viver sábia e simplesmente.- Henry David Thoreau
Mas dizendo poético nunca estou a dizer poético-sentimental, estou a dizer poético-cosmológico.- Mário Cesariny
Matei porque me aborrecia. (declaração de um assasino de 16 anos) - Máximo Gorki, «A Mãe»
Milhares de circuitos neurónicos no nosso cérebro ainda por descobrir, e que estão para lá de toda a violência, toda a inarmonia, toda a ignorância. *****
Minha alma está triste até à morte. Ficai vigilantes.- Cristo, aos discípulos, no Monte das Oliveiras
Modernidade (...) é o marco zero de onde o homem tem de partir se estiver realmente decidido a começar, para chegar a ser.- Adolfo Casais Monteiro
Mussolini há sempre ragione- Estribilho
Na verdade o homem é terra. - Nikos Kazantzaki
Nada é bastante ao homem para quem tudo é demasiado pequeno. - Epicuro
Nada marcou melhor o carácter fragmentado da nossa cultura que o divórcio existente entre as artes. E se por acaso se conseguisse a unidade na construção da cidade nova, supondo por acaso que trabalhassem juntos desde o início urbanistas, arquitectos, escultores, pintores e todos os outros artistas, essa unidade seria artificial por estar imposta a um grupo de indivíduos e não ser gerada espontânamente a partir de uma maneira de viver.- Henry More, Novembro de 1952
Não é aqui o sítio adequado para nos pronunciarmos sobre a espinhosa questão de saber se a «ausência do mito» é ainda um mito, e se não será necessário ver nela o mito de hoje. Apesar dos protestos racionalistas, tudo se passa como se certas obras poéticas e plásticas relativamente recentes exercessem sobre os espíritos um poder que ultrapassa, em todos os sentidos, o da obra de arte.- André Breton
Não existe nenhuma diferença de princípio entre aguçar a percepção servindo-se de um instrumento externo como o microscópio e aguçá-la utilizando uma destas drogas (o peyotl, o ácido lisérgico e a pslocibina). Se isto constitui uma afronta à dignidade do espírito, então o microscópio é uma afronta à dignidade do olho e o telefone uma afronta à da orelha.- Alan Watts, in «Joyeuse Cosmologie»
Não existe outro remédio contra o nascimento e a morte senão aproveitar da melhor maneira o período que os separa. *****
Não há desordem quando não há polícia. - Jacques Sauvegeot
Não nos lamentamos que haja muitos sábios: a nossa infelicidade é que não haja muitos santos, que a consciência não tenha progredido num ritmo igual ao da ciência. - Georges Chevrot
Não procurem ser santos. Contentem-se em ser humanos, porque a verdadeira santidade é um dom divino que, quando se tenta imitar, se torna uma flor de plástico.- Allan Watts
Não se compreenderá nunca a violência surrealista, as exclusões pronunciadas, a cólera comum que unia os membros do grupo (...), se não se repete que o surrealismo foi acima de tudo moral. Pela minha parte, não sei de movimento que, mais que o surrealismo, tenha sido tão empenhado na dignidade do homem.- Ferdinand Alquié, «Humanisme surréaliste et Humanisme existencialiste»
Não se poderá transformar o mundo, se não se reformar a estrutura da imaginação.- Nora Mitrani
Não temos nada que ver com a literatura. O surrealismo é um meio de libertação total do espírito e de tudo o que se assemelha. Estamos bem decididos a fazer uma revolução. Somos especialistas da revolta. O surrealismo não é uma forma poética. É um grito do espírito que regressa para ele mesmo e que está bem decidido a pulverizar desesperadamente todos os obstáculos, se necessário com martelos. - Declaração de Janeiro, 27/1925
Não vale a pena ter tantos automóveis, revestir de cobre ou de aço a mesinha da sala, fabricar tanto «gadget», tanto vestuário, tanto aparelho inútil! Desperdiçar-se assim um material limitado, portanto, precioso. É preciso simplificar a vida, reduzir o consumo, absolutamente!- Sicco Mansholt, in «Ecologia, Caso de Vida ou de Morte»
Não vejo base alguma para renunciar a um dos mais fundamentais direitos humanos, o direito de dizer coisas sem sentido.- Friedrich Waismannn
Não vejo nada de errado no poder, enquanto eu for o tipo que o detém na mão.- Cecil King, então presidente do «Daily Mirror»
Nella mia povertà, l'unica speranza, l'unica fiducia, l'unica sicura promessa è la Tua misericordia. - S. Agostino
Nenhum país, nem mesmo o mais evoluído, pode orgulhar-se de satisfazer todas as cláusulas da Declaração dos Direitos do Homem. São cometidas violações constantes do direito à vida, massacres ficam sem castigo, a injustiça e os maus tratos para com a mulher prossegue, a fome continua a atormentar milhões de seres humanos, são contínuos os atentados contra a liberdade de consciência, de opinião e de expressão, a discriminação racial é uma realidade; tudo isto são factos que de nada serve negar e que constituem a vergonha do mundo.- René Cassin, anarcopacifista(?), Janeiro de 1969
Neste mundo o poeta é um ser amaldiçoado, o pensador um louco, o artista um exilado, o homem de visão um criminoso. - Henry Miller
Ninguém pode chegar aos grandes feitos, aos verdadeiros feitos, senão pelo sofrimento. - C. Virgil Gheorghiu, in «O Homem que Viajou Sózinho»
No corpo do homem abre-se o verdadeiro desconhecido, um desconhecido fora do alcance da ciência e do mundo, para além da expectativa de qualquer meio de observação e de exploração.- Antonin Artaud
No passado o homem lutava contra a Natureza. Agora, o poderio científico e tecnológico é tal que, de certa forma, é ele quem é chamado a proteger a Natureza.- Leo Hamel, porta-voz do Governo francês
No seu máximo esforço, o homem só pode propor-se diminuir aritmeticamente a dor do mundo. - Albert Camus
Nós somos a revolta do espírito.- In panfleto «La Révolution d'abord et toujours»
Nós somos o sal da Terra. - Bíblia
Num círculo, o centro é naturalmente imóvel; mas, se a circunferência também o fosse, não seria ela senão um centro imenso! - Plotino
Num mundo em movimento, o imobilismo é uma desordem. - Edgar Faure
Numa sociedade repressiva até os movimentos progressistas correm o risco de se tornar o contrário do que são, na medida em que aceitam as regras do jogo dessa sociedade. - Herbert Marcuse
Nunca mudarás a consciência do teu semelhante. Nunca impedirás que o teu semelhante mude a sua própria consciência.*****
O amor e a ciência são ao mesmo tempo núcleos e nova fronteira do problema revolucionário.- Edgar Morin
O artista, tal como o pensador, empenha-se e faz-se na sua obra. Essa osmose levanta o mais importante dos problemas estéticos. Além disso, nada é mais vão que essas distinções, separando os métodos e os objectos, para quem se persuade da unidade de finalidade do espírito. Não há fronteiras entre as disciplinas que o homem se propõe para compreender e amar. Interpenetram-se e confunde-as a mesma angústia.- Albert Camus
O automatismo permanece no centro de todas as pesquisas às quais os surrealistas se consagram após mais de trinta anos.- Jean Louis Bédouin
O barbarismo da nossa época é ainda mais estarrecedor pelo facto de tanta gente não ficar realmente estarrecida com ele.- Teilhard de Chardin
O chamamento da vida nunca terá fim.- Herman Hess
O conceito de liberdade, quero dizer: o conceito, se há algum válido, de Poesia, e não Liberdade tal como nos é definida pelos racionalistas como possibilidade de escolha através da razão, mas como explosão acontecida no mais profundo do Ser.- «A Afixação Proibida», 1953
O deserto da Sara avança 50 Km por ano. -Lester Brown
O dinheiro poderá:-comprar uma cama, mas não o sono -livros, mas não um cérebro -alimentos, mas não o apetite -uma casa, mas não um lar -joias e cosméticos, mas não a beleza -obras de arte mas não a cultura -diversões, mas não a felicidade -um crucifixo, mas não um salvador -uma igreja, mas não o céu -medicina, mas não a saúde
O fim a atingir é romper o ciclo dos renascimentos *****
O futuro da humanidade está ameaçado pelos homens de ciência, - João Paulo II, junho de 1980
O homem dorme e nós viemos acordá-lo.- Gurdjieff
O homem que faz muitas perguntas pode parecer, às vezes, ligeiramente idiota, mas o que jamais as faz sê-lo-é toda a vida.- Provérbio
O homem que não viu seu amigo chorar/ainda não chegou ao centro da experiência do amor.- Murilo Mendes
O Japão acredita no progresso, como já ninguém ousa acreditar no Ocidente desde Augusto Comte, é o País de Hiroxima que empreende a reabilitação da energia atómica.- Dos jornais, 28/4/1970
O maior paradoxo do pensamento é que ele pretende descobrir algo que ele próprio não pode pensar.- Kierkegaard
O mundo moderno avilta. É a sua especialidade.- Charles Péguy
O mundo que criámos, como resultado do nível de pensamento que viemos utilizando, cria problemas que não podem ser resolvidos no mesmo nível que foram criados. - Alberto Einstein
O nosso destino é a solidão espiritual e, às vezes, uma conversa com os que estão de acordo connosco. - Nietszche
O número governa o homem.- Pitágoras
O pão era bom para o nosso corpo, antes de conhecermos as leis químicas da assimilação. - Teilhard de Chardin
O presente está cheio de passado e cheíssimo de futuro. Leibnitz
O progresso, diz-se, implica um juízo de valor, a afirmação da superioridade das sociedades actuais sobre as sociedades do passado; ora, por princípio, um conhecimento científico não deve encerrar qualquer juízo de valor, por conseguinte a noção de progresso encontra-se automaticamente excluída. - Raymond Aron
O que se passa quando a força faz lei? A resposta é simples: logicamente, os grandes atacam os pequenos, os fortes roubam os fracos, a maioria trata mal a minoria, os espertos enganam os simples, os nobres desprazam os plebeus, os ricos desdenham os pobres e os jovens troçam dos velhos. - Escola de Mo-Tsen, 5º século AC, China, [ jornal de 16/Janeiro/1974]
O sábio afasta-se das pessoas vulgares, não por raiva, mas por dignidade. - Le Yi-King
O sofrimento conduz o homem à reflexão,que é uma primeira condição de felicidade.***
O surrealismo é uma destas tentativas pelas quais o homem se pretende descobrir como totalidade. Totalidade inacabada e no entanto capaz, num certo e dado instante privilegiada (talvez até pelo único facto de se ver inacabada), de se reconhecer como totalidade. Como o surrealismo é, ao mesmo tempo, movimento«inspirado« e movimento «crítico», ele abarca todas as maneiras de ver, de postulados, de pesquisas conscientes e confusas, mas a intenção principal é indiscutível: o surrealismo procura um tipo de existência que não seja já feito, fácil. Por outro lado, procura um acontecimento absoluto onde o homem se possa manifestar com todas as suas possibilidades, quer dizer, como um conjunto que os ultrapasse.- Maurice Blanchot, «La Part du Feu», 1949
O surrealismo identifica a revolução afectiva - mudar a vida - com a revolução prática - transformar o mundo- Edgar Morin
O surrealismo merece-me um respeito único entre todas as expressões da modernidade; só ele reconheceu que não havia duas revoluções, mas uma só.- Adolfo Casais Monteiro
O surrealismo tentou ultrapassar dialecticamente a contradição entre o individual e o colectivo.- Jean Louis Bédouin
O surrealismo(...) dedica-se à resolução dos principais conflitos que separam o homem da liberdade, quer dizer do desenvolvimento harmonioso da humanidade no seu conjunto e de suas inumeráveis manifestações - da humanidade, enfim, que provém (?) a um sentido menos precário do seu destino, curada de toda a ideia de transcendência, liberta de toda a exploração.- Haute Fréquence, Paris, 24 de Maio de 1951
Os imbecis denunciados por Konrad Lorenz são os fanáticos da economia do crescimento, que condenam o homem a concorrer contra si-próprio.- Revista «Le Sauvage»
Os negociantes de papel, móveis e madeira, que actualmente cortam cerce a floresta amazónica - com a bênção dos tecnocratas brasileiros - destroem uma fonte que regenera um quarto do oxigénio da atmosfera do nosso planeta.- Michel Bosquet, in «Ecologia e Política»
Os que fizeram as coisas grandes não eram bastante sábios para saber que eram impossíveis. - Elogio dos irmãos Wright
Para viver à margem da lei, é preciso ser bastante honesto.- Bob Dylan
Penso, logo não sou. - Kierkegaard
Poderemos acreditar que o mundo vivo resulta de uma soma de erros, de uma acumulação de lapsos?- Jean Rostand, in «Ce que je Crois»
Porque nos devemos preocupar com o mundo exterior? Para mim, a única realidade é a imaginação, o mundo dentro de si mesmo. A revolução já não me interessa.- Marquês de Sade
Qualquer área da Terra habitada tem mais significado para o futuro do homem que todos os planetas do sistema solar. - Lewis Mumford
Quando estiveres só, pensa nos teus defeitos. Quando estiveres acompanhado, esquece os dos outros. - Provérbio chinês
Quando o homem possa enrolar o espaço sobre si mesmo, como um pergaminho, então chegará um fim ao sofrimento. - Os Upanishads
Quando o último dos sociólogos tiver sido enforcado com as tripas do último burocrata, teremos nós ainda problemas? *****
Quando se protege um indivíduo, está a proteger-se a sociedade. - Kenneth Kaunda
Quando tantos povos têm fome, quando em tantos lugares reina ainda a miséria, quando tantos homens vivem submersos na mais completa ignorância, quando ainda falta construir tantas escolas e hospitais, habitações dignas desse nome, todo o esbanjar público ou privado, toda a ostentação nacional ou pessoal, toda a corrida aos armamentos se converte em escândalo intolerável. Queiram os responsáveis ouvir-nos, antes que seja demasiado tarde.- Papa Paulo VI, Agosto/Setembro, 1967
Quando todos os indivíduos se dedicarem ao progresso, então toda a humanidade estará em progresso. - Baudelaire
Quem quer que haja visto um só exemplo do poder da hipnose e da sugestão, compreende que a face do mundo e a existência mudarão totalmente quando controlemos os seus efeitos e dominemos as suas aplicações.- J.B.S. Haldane
Reconhece-se aqui um tema familiar à filosofia existencial: a verdade contrária à moral. - Albert Camus
Se a demanda continuar a crescer exponencialmente, todos os principais metais empregados actualmente terão as suas reservas esgotadas dentro de um século.- Michel Bosquet, in «Ecologia, Caso de Vida ou de Morte»
Se houvesse hoje no mundo um número maior de pessoas que desejassem mais a sua própria felicidade que a infelicidade dos outros, poderíamos ter um paraíso dentro de poucos anos.- Bertrand Russell
Se llama poesia todo aquello que cierra la puerta a los imbeciles.- Aldo Pellegrini
Se nos atrevemos a pensar o impensável, será mais fácil fazer o infactível.- Lawrence Lipton
Se o mundo me parecesse ter um sentido, então não escreveria. -Alberto Camus
Se se fabricam vírus contra os quais o ser humano não tem defesa, ter-se-á encontrado uma arma absoluta ao alcance de um pequeno país e mesmo de criminosos individuais. (o mais premonitório dos pensamentos...)- Jacques Bergier
Segundo Cousteau, metade da vida marinha filmada em 1956 já tinha desaparecido em 1964. A desaparição de uma espécie vegetal pode arrastar a de 10 ou 20 espécies animais e vegetais que dela dependem, pelo menos parcialmente. Poderemos, assim, fazer uma ideia da destruição maciça que implica esta reacção em cadeia.- Humberto Cruz, in «Ecologia Y Sociedad Alternativa»
Sejamos solidários e não solitários. *****
Sem os vermes, o homem não existia. *****
Só a verdade é revolucionária. *****
Só merece as ideias quem as ousa.- Armindo Rodrigues
Só o que é fecundo, é verdadeiro.- Goethe
Só temos uma Terra( Slogan oficial da Conferência de Estocolmo, 1972) ...e uma Humanidade (Slogan extra-oficial à margem da Conferência de Estocolmo).
Sofrer é a grande missão. - Dostoievsky
Somos pela supressão da guerra, não queremos a guerra, mas a guerra não se pode suprimir senão pela guerra. O que recusa a espingarda, deverá pegar na espingarda. - Mao Tse Tung, 1938
Supressão progressiva dos modos de trabalho contrários aos ritmos biológicos (trabalho nocturno, etc.).- Amis de la Terre, França, 1968
Tal como funcionam, actualmente, as forças do mercado mundial, os países ricos estão-se tornando mais ricos e os pobres mais pobres.- Gunnar Myrdal
Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. - São Paulo
Toda a existência me mete medo, desde a mais pequena mosca aos segredos da incarnação. - Kierkegaard
Toda a política do homem se torna revolucionária, desde que acentue a sua progressividade ou a sua radicalidade. - Edgar Morin
Todas as grandes religiões falaram da importância do amor - caridade cristã ou compaixão universal dos budistas - mas poucas sugestões fizeram para permitir à juventude manifestar e cultivar o amor.- Aldous Huxley
Toma a tua vida em tuas próprias mãos e fá-lo em comunidade.- Movimento alternativo, RFA
Trinta anos de surrealismo ortodoxo, decidiram dos milhares de ortodoxias que o movimento provocou, como estava na sua própria índole.- Mário Cesariny de Vasconcelos
Tudo muda, menos a mudança - D.H.Lawrence, «O Amante de Lady Chaterlley»
Um grupo é o começo de tudo.- Gurdjieff, in «Almanach Surréaliste du demi-siècle»
Um homem julgando outro homem é um espectáculo que me faria rir à gargalhada, se não despertasse antes a minha piedade. - Gustavo Flaubert
Um psiquiatra é um homem que vai às Folies-Bergères e olha para a assistência.- Dr. Mervyn Stockwood, bispo de Southwark
Un homme intelligent ne doit avoir qu'une spécialité, c'est d'être intelligent.- Picabia
Utilizem os anos que têm sobre este Planeta para reviver todas as possibilidades da aventura humana, pré-humana e até infra-humana. Explorem a infinidade dos espaços interiores e descubram o pavor das aventuras e dos êxtases que repousam no fundo de cada um de nós. *****
Vêde, eis a pedra brilhante dada ao contemplativo: ela traz um nome novo, que ninguém conhece, a não ser aquele que a conhece. - Ruysbroeck, o admirável
Voici le temps des assassins. – Rimbaud



terça-feira, 14 de dezembro de 2010

YVETTE K. CENTENO NA BIBLIOTECA DO GATO








YVETTE K. CENTENO: LITERATURA E ALQUIMIA

apdn-8 > - alquimia, simbologia, numerologia

ALQUIMIZAR A ALQUIMIA

Lisboa, 20/11/1996 - Relativamente à acepção noológica da palavra «Alquimia», várias alíneas devem ser consideradas , no sentido de não desperdiçar tempo e energias em pistas erradas.
No campo das 12 ciências sagradas, a Alquimia é, com certeza, aquela onde o caminho se encontra minado de maiores ciladas, onde o caminho, a maior parte das vezes , é descaminho.
Pistas de orientação seguras, confirmadas pela experiência e pela prática, eis algumas:

a) A maior parte da literatura que existe alegadamente sobre alquimia releva do puro delírio e da pura fantasia. O facto de o discurso sobre Alquimia se apoiar essencialmente em símbolos (imagens simbólicas) e como os símbolos permitem as interpretações mais dispares e disparatadas (arbitrárias) leva a que o discurso sobre Alquimia seja , na maior parte dos casos, literatura, pura literatura.
Deslindar e distinguir o que é literatura do que é ciência , eis um dos trabalhos alquímicos prévios mais necessários.

b) Um livro onde a interpretação dos símbolos é conduzida com prudência e enorme conhecimento de causa - seleccionando as fontes que verdadeiramente interessam e separando as verdadeiras das falsas - é o livro de ensaios de Y. K. Centeno, «Literatura e Alquimia», Ed. Presença, Lisboa, 1987.
Sendo a autora especialista em Germânicas, tem acesso às fontes de língua alemã, que se mostram de grande fidedignidade, no que toca à simbologia, nomeadamente Victor Jacob Bohme, Goethe, Carl Gustav Jung, Lessing.
Sem abusar do número de títulos citados, as bibliografias indicadas por Yvette Centeno são, regra geral, as que interessam aos temas tratados, especialmente ao aprofundamento da alquimia simbólica que é um dos sentidos certos de abordar a Alquimia - o da Alma ou dos Símbolos.

c) Ensina a experiência que não existe apenas uma alquimia mas várias. E que a generalização da palavra a vários domínios da realidade se explica porque ela constitui de facto uma metáfora de si própria e do próprio universo humano, constantemente auto-reproduzida, a níveis de energia sucessivamente mais refinados.
1) Alquimia alimentar, metabólica ou ortomolecular, a nível da célula viva - acepção que constitui praticamente a maior descoberta das múltiplas descobertas que Etienne Guillé realizou.
2) Alquimia da alma (palco da tragédia da incarnação, após a Queda) em que Carl Gustav Jung e pós junguianos nos deixaram um legado insuperável, fonte de acesso às origens e arquétipos primordiais.
3) Alquimia cósmica, a nível das energias criadoras ( Enxofre, Mercúrio e Sal filosofais), onde Etienne Guillé coloca as 3 energias filosofais e a própria energia da pedra filosofal.

d) Será problemático e um estudo a fazer, decidir se a ocultação da superior sabedoria alquímica foi obra de castas sacerdotais ciosas de guardar o poder espiritual só para elas, ou se o secretismo de castas e colégios de mistérios será a condição sine qua non de preservar as fontes sujeitas a toda a ordem de desvirtuação, degradação e aviltamento: a decadência dos símbolos é uma das ocorrências mais correntes em ciências sagradas, nomeadamente em Alquimia. Ocorrência que a Noologia fundamentalmente pretende corrigir.

e) A indissociável ligação da Alquimia à Simbologia , assinala que, no quadro das 12 ciências sagradas, a Simbologia, a que, em Noologia, prefiro chamar «Arquetipologia» (mais global) surge, só por si, como uma delas.
Mas, como sempre acontece, no contexto das 12 ciências sagradas, a distinção é muito subtil e só poderá fazer-se gradualmente, não havendo uma linha de fronteira nítida a demarcá-las - o que é , como se sabe, uma das dificuldades metodológicas das ciências sagradas e do paradigma mental que reclamam.

f) Uma outra das 12 ciências sagradas que surge constantemente associada à Alquimia é a Kaballah, largamente citada no livro de Y. K Centeno.
A ginástica entre Hermes, o Primeiro, e as mais modernas adaptações do legado hermético como a Kaballah, é outra das dificuldades metodológicas dos nossos estudos de Noologia.

g) A 3ª grande dificuldade metodológica é que a condição sine qua non da Alquimia como ciência é a de uma vivência, que tem de ser, simultaneamente, uma vivência , uma experiência, uma prática, uma reflexão, uma síntese, uma análise, etc.
Se o referido estudo de Y. K. Centeno é exemplar no aspecto teórico, poderá ter essa falha, comum aliás a muitos ensaístas que falam, de cor, da Alquimia que nunca experimentaram ou consciencializaram .
A grande questão da Alquimia - arte, ciência e prática operativa - é que, para falar dela, sem ser de cor, tem de se fazer primeiro a alquimia pessoal ao nível do ADN da célula, da molécula. De contrário, é pura «cosa mentale», é puro papagueio. E alquimia só mental, aborrece, não existe: de coisas virtuais estamos repletos hoje em dia.
Alquimizar a Alquimia é a primeira grande condição e o primeiro grande postulado da Noologia Geral e da Noologia Médica.

h) Alquimizar a Alquimia é sinónimo de iniciação - que aparece como experiência sine qua non da Alquimia e vice-versa. As escassas referências de Y. K. Centeno a Paracelso pode ser um indício de desvalorização da prática em favor dos teóricos da Alquimia.

i) Como prova a bibliografia disponível de autores divulgadores da história da Alquimia, os símbolos dominantes na Arte:
Labirinto
Espiral
Andrógino
Fogo
Dragão
Árvore
Homunculus
Adão primordial
Lucifer
Queda
Rio
Ponte
repetem-se constantemente.
1) É uma das suas características - a repetição. Outras se sublinham:
2) Ambiguidade
3) Leitura (descodificação) pelo menos a 3 níveis
4) Proximidade dos arquétipos e do inconsciente colectivo (transpessoalidade)

j) Para os que abordam a Alquimia na perspectiva mais literária e ensaística, há símbolos preferidos e há livros inteiros , por exemplo, sobre:
Labirinto
Andrógino
Espiral
Esfinge.
Em contrapartida , há livros de Alquimia que não citam a Esfinge ou o Caduceu. É o caso do livro de Yvette Centeno.

l) Se a degradação dos símbolos é um facto (e um dos aspectos definidores da Queda) , a degradação do discurso , dos textos, será ainda maior , devido ao efeito «Babel».
Se é um facto que, como reconhece Marie Louise Von Franz, «os contos de fadas exprimem de um modo extremamente sóbrio e directo os processos psíquicos do inconsciente colectivo » e que «os arquétipos são aí representados no seu aspecto mais simples, mais despojado, mais conciso» - a abordagem do conto de fadas deverá fazer-se com redobradas cautelas, atendendo aos factores históricos que corrompem o discurso mais ainda do que as imagens simbólicas.
Decorre daqui que o valor vibratório é sempre superior na letra, ou em conjuntos elementares (silábicos, «les briques», Etienne Guillé) - binário, ternário, quaternário, etc. - do que em palavras ou em discursos e contextos.
Não é por acaso que o trabalho alquímico se deverá fazer:
1º com os metais
2º com as letras
3º com as letras dos alfabetos sagrados - sânscrito, hebraico, egípcio.
Na minha pequena biblioteca de Ciências Sagradas conservo cerca de centena e meia de livros não só com os chamados «contos de fadas» mas com as lendas, contos tradicionais e provérbios de diversos povos.
Aliás, por parte dos intelectuais não se verifica muito entusiasmo relativamente aos provérbios, como forma de acesso aos arquétipos.

m) A própria globalidade semântica dos símbolos, pode expô-los ao referido delírio de descodificações. É caso para dizer que o «símbolo tudo consente».

n) Seleccionar Símbolos é, em Alquimia, um trabalho tão necessário como seleccionar palavras. Uns e outros - símbolos e palavras - são nomes de Energias e é , como tal, que a sua selectivação e posterior hierarquização numa escala coerente de valor vibratório se torna indispensável ao trabalho do estudante de Noologia.
Yvette K. Centeno chama a atenção para o livro de Ruland, «Lexicon Alchemiae», belíssimo título para este capítulo dos nossos «Elementos de Noologia» a que chamámos «Glossário das Energias».
É neste contexto que se inserem as listagens efectuadas pelo grupo de pesquisa de Paço de Arcos como um instrumento didáctico interessante.

o) Fazendo a ponte para mais uma das 12 ciências sagradas - a Numerologia, Aritmosofia - Y.K. Centeno tem 2 páginas particularmente admiráveis , na ousada interpretação que faz dos cânticos de «Os Lusíadas» .
A reter:
- O número 10 do Canto X é o número do regresso, do retorno à unidade primeira
- O «caminho» como significando «iniciação»
- «Mas o que é Deus, ninguém o entende. Que a tanto o engenho humano não se estende» . Verso de Camões
- No canto X realiza-se a soma da perfeição: o 1+2+3+4 dos pitagóricos dá o número de excelência que é o 10 (soma dos 4 primeiros números, sendo o 4 em si mesmo uma representação da totalidade). O 10 é um número par: feminino completa o 5, ímpar, masculino.
Se o canto V é o da força actuante, masculina (que o Gama e Portugal representam) o Canto X é o da fecundidade feminina, o da Sabedoria que preside à criação do universo (que Vénus representa)
- «A visão da Cabala é sempre colectiva: trata-se da humanidade e não do indivíduo, do Adam Kadmon, do homem cósmico, do homem primordial.»
- Toda a dinâmica da emanação sefirótica reside na alternância entre o Poder e o Amor. Estas 2 sefirotes são as 2 faces da Divindade:
a) Elohim, deus da Justiça
b) Jehovah, deus do Amor
O reconhecimento da identidade das 2 faces de deus obtém-se no termo do devir, na totalidade harmoniosa das 10 sefirotes.»

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

DEEPAK CHOPRA NA BIBLIOTECA DO GATO





chopra-1>noologia> autoterapia Revisão:segunda-feira, 6 de Dezembro de 2010

GLOSSÁRIO DAS ENERGIAS EM DEEPAK CHOPRA

«A memória de uma célula é capaz de sobreviver à própria célula» (95)
«O corpo possui uma mente própria»
« A delicada teia de informações que mantém o organismo unido» (49)
«Receptores da célula são fechaduras em que só entram chaves muito especiais»
«Há alimentos tristes e alimentos alegres»

Deepak Chopra, in «Cura Quântica», Ed Difusão Cultural, Lisboa, 1991

Lisboa, 2/11/1996 - A questão que preocupa Deepak Chopra em quase metade do seu livro «Cura Quântica» - «a inteligênca do organismo» - talvez pudesse ter uma resposta menos complicada, menos analítica e mais satisfatória para a prática médica, recorrendo aos postulados da Noologia, do que, como faz Chopra, recorrendo aos atalhos analíticos da ciência ordinária e experimental.
Talvez que, com a simples explicação yin-yang aplicada à célula, pudéssemos perceber melhor como é que a informação intercelular circula, passa ou não passa, em função do mecanismo sódio/potássio, ou seja, em função do binário yin-yang e do que a ciência conhece por PH. Melhor do que nos atascarmos no pântano de noções fragmentárias, peças de um puzzle interminável em que a ciência analítica se compraz:
Acetilcolina (67)
Dendrites
Dopamina (Deficiência em) (68)
Glicina
Neuropéptidos (74)
Neurotransmissores (66)
Norepinefrina (67)
Receptores da célula
Serina
Sinapses dos neurónios(57)

No campo da nomenclatura mais clássica , Chopra recorre também aos conceitos de
Glândula pituitária
Hipófise
Hipotálamo
Todos estes nomes da ciência analítica (no caso concreto da Bioquímica - do cérebro e do sistema nervoso) pertencem àquilo que Chopra define como «a delicada teia de informações que mantém o organismo unido» (49) .
Interleucinas e interferon, com a desinência «inter», têm o nome com elas, assim como os neurotransmissores .
A perplexidade que Chopra revela, no entanto, é a perplexidade natural da ciência ordinária que divide e subdivide, classifica, nomeia, analisa, experimenta para tentar explicar um mecanismo global mas, em fim de contas, apenas complica ainda mais o quadro, depois de ter uma lista de nomes - partes ou fragmentos - sem poder explicar o mecanismo global que afinal garante a intercomunicação e processos tão importantes decorrentes dela como:
Biocibernética
Homeostasia
Imunidade
Relógio biológico
Sinergia
etc.
De caminho, Chopra continua utilizando uma nomenclatura psicologística que só concorre, de facto, para a confusão. Listando esses vocábulos no sentido do mais para o menos confuso, indicaríamos:
Relação mente-corpo
Psicosomática
Bodymind
Poder mental
Mente
Cérebro
Menos equívocos porque mais globais, genéricos e holísticos:
Estrutura cognitiva
Pensamento consciente
Abordagem psicológica
Consciência Psicológica
Preferível porque ainda mais global, holístico e genérico:

Estados de espírito
Estados de consciência
Estados vibratórios de consciência ou estados de consciência vibratória é a designação-chave em radiestesia holística, na abordagem do continuum energético.
Isto sem falar da inesgotável nomenclatura psiquiátrica com os famosos rótulos postos às costas do doente como anátemas ou azorragues :
Neurose
Psicose
Esquizofrenia
Stress
Face a este quadro caótico, como são todos os quadros fornecidos pela ciência analítica, talvez não seja desaconselhável ir pela abordagem global e holística da Noologia que procura, dentro do continuum energético, atribuir números em progressão logarítmica , em vez de palavras, com conotações equívocas, às energias.
A palavra «emoções» , por exemplo, situar-se-á no N32 ou, concretizando, em uma das 9 camadas da alma.
Já a metade do livro, Chopra explica com desenhos o que entende por «Cura Quântica», descoberta sua e título da sua obra.
De novo entramos sobre pormenorização de «partículas», já esquecida a noção básica que Chopra nos dá no prefácio, citando o famoso Stephen Hawking:
«Quantum é a unidade indivisível na qual as ondas podem ser emitidas ou absorvidas.»
A definição assemelha-se à de Mónada, dada por Leibnitz, mas isso levar-nos-ia a uma questão filosófica provavelmente interminável.
Com todas as agravantes de uma nomenclatura indutora de erro, mas a obra de Chopra ainda é das que põem à disposição do estudante das energias um conjunto de conhecimentos próximos daquilo que interessa à ciência noológica.
Não esqueçamos que a Noologia está a nascer e que tem de ir buscar informações às fontes , neste momento, acessíveis, a maioria das quais se encontra inquinada por 41 mil anos de queda livre da humanidade.
O puzzle, nessas obras e autores, atingiu um tal estado de confusão que todo o trabalho consiste - como este guião de estudo e leitura pretende - em ir separando o trigo do joio, em ir deitando fora o acessório e recolhendo o essencial, em reunir e aproximar peças desavindas e aparentemente distantes, em ultrapassar as ciladas da palavra, a confusão das linguagens e nomenclaturas, a corrupção milenar dos símbolos.
O projecto da Noologia - reconstituir a Biblioteca de Alexandria e, depois de Babel, reconstituir a linguagem original da vida, - vai exigir tempo, paciência e alguma teimosia de quantos quiserem aderir a este projecto que - diga-se desde já - é um projecto cósmico a ambicioso.
Mas um projecto em que temos por nós o Cosmos se para ele trabalharmos com afinco , determinação e vontade.
Como diz a Grande Esfinge:
Saber
Querer
Ousar
Deter-se
Amar 6 vezes
Querer e ousar é fundamental, porque se constata que, no nosso tempo, há:
a) Muita gente a viver, à tripa forra, do negócio babélico da confusão de linguagens
b) Muita gente que sadomasoquisticamente gosta da confusão porque energeticamente é confusão e não quer tratar-se...
+
1-5- chopra-2> [bodymind]

DEEPAK CHOPRA: PÁGINAS DE ANTOLOGIA

UM É TUDO, E TUDO É UM(*)

Cada gotinha de seiva contém a essência da árvore toda.
MAHARISHI MAHESH YOGI

Ver um Mundo num Grão de Areia
E um Paraíso numa Flor Silvestre,
Conter a Infinidade numa mão cheia
E a Eternidade numa hora campestre.
WILLIAM BLAKE

A realidade existe porque você está de acordo com ela. Sempre que a realidade muda, o acordo foi mudado. A História da Ciência chama a isto uma mudança de paradigma. Este conceito foi apresentado pela primeira vez pelo notável historiador da ciência Thomas Kuhn, no seu livro The Structure of Scientific Revolutions( A estrutura das Revoluções Científicas), onde descreve um paradigma como sendo uma estrutura científica que explica a realidade. E como se fosse uma cerca que encerra todos os factos científicos do momento; incorpora a visão que então se tem do mundo. Por exemplo, até 1453, todos concordavam que o Sol nascia no leste e se punha a oeste. Este ponto de vista era atestado pelos sentidos, e todos os acontecimentos que precisavam de ser explicados pela ciência estavam de acordo com este facto. Porém, no século XV, houve uma mudança. Os observadores começaram a notar novos acontecimentos na natureza. Uma vez que a natureza é infinita e sempre presente, seria mais acertado dizer que os homens começaram a reparar em coisas que até então não tinham notado ou não tinham querido ver. Quando Copérnico levantou a hipótese de que o Sol não se movia no céu, mas, ao contrário, era a Terra que girava à volta do Sol, houve uma revolução — o antigo paradigma foi derrubado.
Revolução é a melhor palavra para esse processo, porque tudo o que a antiga realidade explicava tinha de ser reinterpretado. Quando um carrinho de maçãs se vira, temos que recolher de novo tudo o que estava nele.
O que é importante observarmos aqui é que, na época, ninguém pensou querer que o paradigma mudasse. Vemos hoje que as teorias de Copérnico, Galileu e Newton deram origem a uma realidade incrivelmente interessante e rica. As pessoas naquela altura não pensavam assim; todos os que tinham interesses na opinião ortodoxa, todas as pessoas sérias, que pensavam correctamente, se opuseram sinceramente à «nova ciência».
O paradigma não é um facto em si mesmo, é um conceito. Para que a realidade mude, o conceito deve ser aceite, e isso só pode acontecer ao nível da consciência colectiva. Génios como Newton e Einstein mostram o caminho — podemos dizer que são os primeiros a precipitar a nova realidade —, mas todos têm de ir atrás para que se aceite a mudança como estando a acontecer «realmente». Actualmente, mais de meio século depois da Teoria Geral da Relatividade ter sido proposta pela primeira vez, os seus insights ainda não são do conhecimento geral. Há quinze anos atrás, a relatividade era considerada demasiado difícil para que os estudantes do ensino secundário a pudessem entender e, ainda hoje, muitos professores de fisica têm apenas uma vaga ideia do que ela propõe. Mas ela é uma realidade. A realidade é aquilo com que estamos de acordo, e qualquer pessoa que tenha visto a natureza através dos olhos de Einstein, bem como as duas gerações seguintes de novos físicos, compreende que ocorreu uma grande mudança cujas ramificações irão, eventualmente, abalar todos os postos avançados de opinião aceite.
A natureza é infinita; portanto, nenhum paradigma científico pode explicá-la totalmente. Uma vez que mudemos a nossa visão da realidade, a natureza tem muito mais realidade para nos mostrar. Temos de compreender plenamente que a realidade pode mudar sempre que a nossa visão da natureza e das suas possibilidades infinitas decida que é preciso haver uma mudança. A maioria das pessoas não pensa assim. Pensam, por exemplo, que é verdade que a Terra gira à volta do Sol e não o contrário.
De facto, esta questão é puramente um problema de perspectiva. Tanto a Terra como o Sol se encontram suspensos no espaço vazio. Os seus movimentos acompanham o movimento maior de rotação da nossa galáxia, e a própria galáxia está a distanciar-se da fonte do Big Bang a uma velocidade incrível.
Aceitar que a Terra gira em torno do Sol ou que o Sol gira à volta da Terra depende da posição em que se está, daquilo que se quer saber e de como pensamos lá chegar. Os astrólogos medievais estavam principalmente interessados em assuntos que podiam ser bem compreendidos se a Terra fosse colocada no centro das suas cartas astrológicas. No entanto, se você quiser ser rigorosamente exacto, será melhor e mais simples conceber um sistema solar onde o Sol está no centro, porque então todos os planetas giram em torno dele em elipses simples e regulares. No modelo antigo, os planetas tinham que recuar e fazer o chamado «movimento retrógrado». Ao observarmos o céu nocturno, veremos exactamente esse movimento aparente dos planetas. A realidade dos antigos era essa e, portanto, manteve-se nas cartas astrológicas até aos nossos dias.
Normalmente, as pessoas não aceitam factos que não se encaixem na sua visão do mundo. Se lhes for dito ou mesmo se virem com os próprios olhos que o cancro se pode curar espontaneamente, que se podem remover porções do cérebro sem prejuízo da mente, que um atrasado mental pode tocar um concerto de Tchaikovsky sem nunca ter tido lições de piano, que idiotas congénitos podem fazer cálculos matemáticos complicados num instante ou que seres humanos podem andar sobre brasas quentes (para citar apenas alguns dos temas da actualidade acerca dos quais possam ter lido nos últimos dois anos), ainda assim estes acontecimentos não têm qualquer realidade até que algo mais básico aconteça. As coisas mais básicas que fazem falta são: primeiro, uma nova explicação que funcione melhor do que a velha e, segundo, uma mudança na consciência colectiva para criar plenamente a nova realidade.
Tenho vindo a propor que a saúde perfeita é uma realidade para qualquer pessoa e que cada um pode expandir o seu quinhão de inteligência infinita. Seja o que for que a mente do homem possa conceber, a mente do homem pode realizar. Uma enorme extensão da natureza, não explicada pela visão actual do mundo nem pela ciência moderna, está prestes a revelar-se. À medida que isso for acontecendo, a consciência colectiva descobrirá uma realidade humana muito mais rica do que a que conhecia antes. Na verdade, esta é a única razão para a humanidade — uma colecção de mentes individuais — mudar a sua visão da realidade; a possibilidade de crescimento está inerente em nós. As nossas mentes são uma parte e uma parcela da natureza e, por isso, compartilhamos da força da evolução que faz com que tudo na natureza progrida, para revelar mais e mais das possibilidades da inteligência.
É compreensível que qualquer novo paradigma encontre resistência. Cada paradigma explica tudo. O nosso actual paradigma, que afirma que é «impossível» que a realidade interior de uma pessoa se harmonize plenamente com a realidade exterior do mundo, é agora aceite como correcto. O novo paradigma também irá explicar tudo, porém explicará muito mais. Eis alguns sinais da mudança e das coisas que estão prestes a ser explicadas:

1. Quando ratos de laboratório são treinados para realizar uma nova tarefa, como aprender a correr através de um labirinto complicado, alguns pesquisadores descobriram que ratos noutras partes do mundo são capazes de levar a efeito a mesma tarefa mais facilmente. Estes ratos não estão relacionados geneticamente com o primeiro grupo; são simplesmente ratos. Não têm qualquer comunicação ou conexão física com o grupo inicial. Parecem aprender mais rapidamente só porque o primeiro grupo já aprendeu a realizar a tarefa.
2. Ainda mais fascinante é a história de alguns macacos japoneses que vivem em estado selvagem na ilha de Koshima, fora das ilhas japonesas principais. Este caso científico tornou-se bastante famoso por causa de Lyal Watson, biólogo inglês, que relatou o incidente no seu livro Lifetide( A Tendência da Vida) . (Watson escreveu uma série de livros fascinantes sobre acontecimentos da natureza que desafiam a actual linha de pensamento nas fronteiras da ciência.)
Logo após a Segunda Guerra Mundial, cientistas japoneses que estavam a estudar essas tribos de macacos deixavam batatas-doces na praia, comida que os macacos apreciavam muito. No entanto, os macacos tinham dificuldade em comer as batatas-doces por causa da areia que as cobria depois de serem lançadas pelos cientistas. Então, em 1952, uma macaca jovem, a que os cientistas chamaram Imo, teve a ideia de lavar as batatas num riacho. Watson chama génio à inteligência que ela teve para encontrar uma solução tão original para o problema, comparável à descoberta da roda pelo homem. Os outros macacos jovens observaram Imo, perceberam o truque, e logo muitos deles estavam também a lavar as suas batatas.
Em breve, todos os macacos jovens estavam a lavar a sua comida suja, contudo, é interessante notar que os macacos adultos com mais de cinco anos só o faziam se estivessem a imitar directamente um macaco mais jovem. No Outono desse ano, um grande número de macacos de Koshima estava a lavar a sua comida, mas agora no mar, porque o «génio» da tribo, Imo, descobrira que a água salgada não só lavava a comida como também lhe dava um paladar especial que os macacos apreciavam. Watson fixou arbitrariamente em noventa e nove a grande quantidade de macacos que fazia isto. Então, uma noite, o centésimo macaco aprendeu a lavar a sua comida. Watson relata-nos um fenómeno extraordinário que daí resultou:

O acréscimo do centésimo macaco elevou aparentemente o número para além dum certo tipo de limiar, forçando-o além duma espécie de massa crítica, pois, naquela noite, quase todos na colónia estavam a fazer o mesmo. Não apenas isso, mas o hábito parece ter saltado barreiras naturais e ter aparecido espontaneamente — como os cristais de glicerina em frascos fechados de laboratório — em colónias de outras ilhas e numa tribo de Takasakiyama, numa das ilhas principais.

De acordo com a teoria da evolução proposta por Darwin e sustentada na forma moderna pelos geneticistas, este acontecimento é impossível. Como pode uma característica ser passada espontaneamente na mesma geração de uma dada espécie, para já não falar de ser passada a todos ao mesmo tempo e em vários lugares separados entre si no espaço? A glicerina em frascos de vidro, de que Watson nos fala, é um exemplo do mesmo tipo, onde o novo comportamento não foi sequer aprendido por uma espécie viva. É extremamente difícil fazer com que a glicerina se cristalize; contudo, após a primeira conquista bem sucedida para induzir a cristalização, a glicerina cristalizou espontaneamente em frascos de vidro selados de outros laboratórios. Assim como no «fenómeno do centésimo macaco», a inteligência actuou duma maneira auto-referente, saltando barreiras de uma forma «impossível». Mas este é simplesmente o comportamento natural da inteligência — age sobre si mesma, por si mesma e através de si mesma. Não conhece barreiras absolutas. É claro que a inteligência não salta fora dos seus limites ao acaso. Ela respeita os seus próprios caminhos. No entanto, também sabe como criar novos caminhos. Criam-se novas realidades quando surge a necessidade disso.
Tendo em mente o que falámos sobre a consciência colectiva, o comentário mais significativo de Watson foi: «Pode ser que quando um número suficiente de pessoas considere algo como sendo verdade, isso se torne verdade para todos». Einstein disse sensivelmente a mesma coisa a propósito das suas ideias sobre a teoria da relatividade.
3. Se a consciência colectiva é real, então devemos ser capazes de fazer qualquer coisa com ela. Nesse sentido, a organização de Meditação Transcendental tem conduzido várias experiências com a finalidade de saber se a consciência colectiva pode ser estimulada e dar maior apoio à vida. Os resultados são fascinantes, uma vez que servem de testemunhos bastante concretos para o novo paradigma. Até agora, foram feitas dezenas de experiências. Mencionarei apenas as mais importantes.
Em 1976, um estudo publicado pelo psicólogo Candace Borland mostrou que, quando 1 por cento da população de uma cidade começa a meditar, o índice de criminalidade nessa cidade começa a diminuir espontaneamente. Usando um grupo de onze cidades americanas como amostragem, nas quais se sabia comprovadamente que 1 por cento da população aprendera a técnica de MT, o Dr. Borland descobriu diminuições no crime da ordem dos 16 por cento ao ano. A comparação foi feita com cidades análogas onde, como no restante da América, a taxa de criminalidade estava a aumentar. Este estudo tem sido repetido muitas vezes, usando-se centenas de vilas e cidades, sempre com resultados semelhantes. Em 1979, um grande grupo de praticantes de MT reuniu-se na Universidade de Massachussetts, em Amherst. Os trabalhos incluiam períodos diários de meditação em grupo. Fisiologistas da Universidade Internacional Maharishi, de Iowa, mediram a actividade cerebral de indivíduos que, na mesma altura, meditavam em Iowa. Sem terem qualquer contacto com o grupo de Amherst ou qualquer conhecimento acerca de quando este grupo meditava (estava a ser usada uma técnica avançada de meditação, os MT-Sidhis), os meditantes de Iowa mostraram uma maior coerência das ondas cerebrais, exactamente no momento em que o grupo de Amherst começou a praticar as suas técnicas. Esta coerência não esteve presente antes nem se repetiu depois deste período específico.
No Inverno de 1983, um grande grupo de meditantes, cerca de sete mil e quinhentos, reuniu-se em Iowa para outra conferência que incluía a prática de MI em grupo e a técnica avançada de MT-Sidhis. Os sociólogos estudaram mais de uma dúzia de variáveis que pudessem ser influenciadas ao nível da consciência colectiva. Usando técnicas estatísticas bastante sofisticadas e fiáveis, descobriram que se produziram mudanças notáveis. Exactamente nesse período, o mercado de valores alterou-se por completo, depois de meses de estagnação, e voltou a animar-se, subindo quase em linha recta até ao último dia da conferência. Logo que acabaram estas meditações em grupo, realizadas pelos sete mil e quinhentos participantes, o mercado imediatamente decaiu também em linha recta. Outros índices também mudaram, apesar de não tão drasticamente. Durante esse período, houve menos desastres de automóvel, a entrada em hospitais baixou, o índice de criminalidade decresceu e publicaram-se menos notícias sobre conflitos internacionais.
Estes resultados parecem impossíveis a não ser que compreendamos que a realidade é modelada ao nível da consciência colectiva. Sendo assim, estes resultados são fascinantes e altamente promissores para tomar a realidade humana mais positiva e progressista. Nos últimos quinze anos têm-se verificado resultados semelhantes em dezenas de experiências, testando os efeitos da meditação sobre os índices nacionais de criminalidade, conflitos militares, acidentes de automóvel, incidência de doenças e várias outras medidas da qualidade de vida em geral. De acordo com o actual paradigma, estas variáveis não têm qualquer relação entre si. Não há qualquer razão que explique porque devam melhorar em conjunto, nem qualquer razão que explique porque devam melhorar espontaneamente em correlação com a meditação de grupos de pessoas distantes.
Estes resultados são possíveis porque a inteligência é uma só. Se a inteligência individual pode curar espontaneamente um processo de doença, trazer mais pensamentos de paz e amor, remover o stress interno e apontar a mente em direcção a atitudes positivas, não há nada que impeça este processo de acontecer numa escala maior. Toda a realidade é compartilhada, e o que é realidade para um é realidade para todos. Ao nível da consciência colectiva, concordámos com esta realidade única. Tivemos de o fazer, pois é apenas através da inteligência compartilhada que se pode criar qualquer realidade — a inteligência é uma só, apenas se expressa por meio de canais infinitamente diferentes.

* * *
O novo paradigma está a brotar simultaneamente de diversas fontes. Já falámos da nova física, que iniciou a mudança de paradigma através da teoria da relatividade. Na física, alguns pensadores avançados já propõem que a consciência colectiva é a única hipótese que consegue explicar o universo que vemos e aceitamos como real. Um biólogo britânico, o Dr. Rupert Sheldrake, é pioneiro no estudo da «força oculta» que pode ser responsável pelo fenómeno do centésimo macaco. Ele propõe que as mudanças nas formas das plantas e dos animais podem, na verdade, ser causadas num nível mais subtil que o do ADN. Por outras palavras, em vez de contar apenas com a composição física dos genes, o Dr. Sheldrake começa a olhar para a sua qualidade abstracta, a informação que eles codificam. Conforme já discutimos, os genes não são simplesmente físicos; transmitem o conhecimento acumulado de toda a evolução. O Dr. Sheldrake propôs a existência de campos de informação que dão à vida as formas definidas que nela vemos. Estes «campos morfogenéticos» modelam a vida antes que a forma fisica se manifeste. Eles são, em essência, a versão natural dos pensamentos.
A ideia de um campo está subjacente à maior parte da maneira de pensar da nova física. O que antes era visto como electrões separados ou ondas de luz isoladas é agora visto como manifestações de campos infinitos. Os campos são a «verdadeira» realidade; aquilo que vemos são apenas acontecimentos locais surgindo inesperadamente a partir deles. O Dr. Sheldrake está ampliando o conceito de campo para a biologia, e os investigadores da MI estão a levá-lo para o domínio da consciência humana. E desta maneira que o paradigma se propaga, indo de uma área para outra até que todas as maçãs do carrinho virado tenham sido recolhidas novamente.
O que é que nos leva a pensar que a consciência seja um campo? Os Drs. R. Keith Wallace, Michael Dillbeck e David Orme-Johnson, cientistas dedicados à investigação da MI, propuseram a ideia de um campo de consciência precisamente para explicar os resultados experimentais aqui mencionados. Como podem dois cérebros responder um ao outro à distância? Como pode a meditação feita por um grupo, pequeno ou grande, de pessoas fazer baixar os índices de criminalidade? Armados com centenas de descobertas concretas, dignas de confiança, e precisando explicá-las, os cientistas dedicados à MI aproveitaram-se do novo paradigma. Se considerarmos a consciência humana como sendo um campo infinito do qual cada pessoa é uma expressão local, então torna-se plausível que uma parte do campo possa afectar outra parte. É exactamente assim que os campos funcionam. Uma bússola colocada em qualquer parte do campo magnético da Terra alinhar-se-á espontaneamente com esse campo - apontará o norte. Assim, se o processo de transcender permite que as mentes individuais se aquietem e alcancem um estado de máxima coerência cerebral, parece lógico que as outras mentes humanas possam sentir o efeito. Uma «força oculta» do campo da consciência dá forma aos efeitos que então surgem como realidade. Essa força deixa de ser um mistério quando compreendemos que se trata da consciência. A consciência, canalizando a inteligência ao nível do eu, traz os benefícios da meditação. Numa escala mais ampla, traz benefícios para essa expressão da inteligência chamada sociedade.
Os investigadores da MI deram um nome ao efeito geral que estão a estudar; chamaram-lhe «efeito Maharishi». Maharishi Mahesh Yogi, nos seus ensinamentos sobre consciência, foi o primeiro a predizer que o processo de transcender pode provocar mudanças à distância, que é a característica principal de um efeito de campo. Disse também que bastaria um pequeno número de pessoas para produzir o efeito. As bases para essa especulação, uma vez mais, vieram da física, onde são bem conhecidos certos casos em que, para que o todo mude, basta que mude um pequeno número de partículas. Por exemplo, se se magnetizar cerca de 1 por cento dos átomos duma barra de ferro, toda a barra fica magnetizada. A mesma coisa se passa nas reacções químicas; logo que uma pequena percentagem de uma solução tenha reagido, o resto da reacção segue-se quase instantaneamente. Muitos outros efeitos físicos, incluindo o Jaser, funcionam do mesmo modo.
Aplicou-se, então, a mesma lógica à consciência humana. Lyall Watson especulara que, se um número suficiente de pessoas pensar que algo é verdadeiro, isso torna-se verdadeiro para todos nós. O efeito Maharishi mostra que aparentemente não é necessário um grande número de pessoas. O impacto significativo deu-se quando se descobriu que o efeito deve acontecer num nível mais profundo do que o do pensamento. Durante o processo de transcender, o meditante não está a pensar em crime, guerra, doença, etc., tentando vencê-los. Está simplesmente a expor a sua consciência ao nível do eu, à consciência tal como ela existe antes dos pensamentos surgirem. Tendo feito isso, a inteligência espontaneamente faz o resto. Os investigadores da MI comentam que «esta extraordinária nova tecnologia para criar coerência na consciência colectiva pode potencialmente levar não só à melhoria da qualidade de vida nas cidades, como sugerem os estudos sobre criminalidade acima citados, como também à resolução dos conflitos internacionais e ao estabelecimento da paz mundial. »
Por outras palavras, o efeito pode propagar-se. Uma consciência calma, serena e coerente tem um poder tremendo — como mostram as vidas de Gandhi, Madre Teresa e muitos outros. Se a nossa consciência pode crescer e igualar-se à deles, a mesma influência pode expandir-se cada vez mais. Se pudermos aprofundar a nossa consciência para além, até, daquilo que eles experimentam, então essa influência será duradoura.

Uma cura e paz duradouras só são reais ao nível do nosso ser. Enquanto aquilo que somos estiver isolado da natureza, não seremos ajudados pela natureza — e isso inclui a nossa própria natureza. O grande filósofo alemão Martin Heidegger disse que a ameaça que paira sobre a humanidade vem de dentro. Vem porque o homem se coloca contra o fluxo da natureza, ou Ser, quando foi feito para viver com ele: «A natureza humana encontra-se na relação do Ser com o homem». Este Ser é a nossa fonte. Tentar viver fora dele é romper com tudo: «O mundo torna-se incurável, profano».
As pessoas temem o perigo da bomba nuclear, mas este perigo de um mundo sem cura é que é o perigo, diz Heidegger. Todas as outras ameaças — guerra, doença, ódio, morte — derivam dele.
É aqui que uma nova visão do mundo traz o fim de todas as ameaças. «Mas», diz Heidegger, «onde existe o perigo, cresce também o que dele nos salva.» Temos apenas de nos voltar novamente para a nossa fonte, para o nosso ser, e a natureza curar-se-á a si mesma. Não precisamos de ser cientistas para perceber porque é que uma nova realidade está a abrir caminho através das nossas mentes. Um mundo sem cura é intolerável. A doença não é natural. E não é só porque nos causa sofrimento. No mais profundo do nosso íntimo, a doença ofende-nos, porque limita a nossa liberdade; e uma coisa que a inteligência nunca pode tolerar é a perda da liberdade. Com a possibilidade de saúde, felicidade e amor, o coração expande-se. Quando começamos a criar saúde, o mundo profano erigido pelas nossas mentes transforma-se numa realidade mais importante, o mundo do coração. Através da sua compaixão, o coração humano abriga todos os seres. E o reino íntimo do mundo, maior do que todo o espaço objectivo. Os nossos pensamentos são como um conselheiro que sussurra aos ouvidos de um rei. Por muito sábio que seja, ele não é o rei. O rei é coração e mente, emoção e inteligência, todos num só. Porque cada pessoa viva contém isto dentro de si, pode governar-se a si própria. Ao nível do nosso ser, temos todo o potencial que podíamos talvez precisar para criar uma nova realidade.
Desde que acolhamos bem a nossa consciência de volta à sua fonte, os problemas da vida acabam por desaparecer. Surge a compreensão de que os problemas, na verdade, não existem. Dessa compreensão, desponta um mundo diferente. Um mundo curado e sagrado.
- - - -
(*) Este texto de antologia é o capítulo 37 (pgs. 229-240) do livro de Deepak Chopra, «Criando Saúde», editado pela Dinalivro, Lisboa, 1990 e traduzido por Jorge Angelino, praticante da Meditação Transcendental e elemento activo da Associação Portuguesa para o Avanço da Ciência da Inteligência Criativa, com sede em Lisboa.

1-4 - antologia ac - roteiro de estudo, leitura e pesquisa na internet - tese ac - noologia ortomolecular

A INTELIGÊNCIA DA VIDA EM DEEPAK CHOPRA

«Cheguei a 3 conclusões: a primeira é que a inteligência está presente em todos os pontos do nosso organismo; a segunda é que a nossa inteligência interior é muito superior a qualquer uma com que se procure substituí-la a partir do exterior; e a terceira é que essa inteligência é mais importante do que a própria matéria do corpo, visto que, sem ela, essa matéria ficaria desorientada, amorfa e caótica.
A inteligência estabelece a diferença entre uma casa desenhada por um arquitecto e um amontoado de tijolos.»
Deepak Chopra, in «Cura Quântica» - Ed. Difusão Cultural - Lisboa - 1991

PALAVRAS-CHAVE PARA A NET

Actividade eléctrica da célula
Associação Americana de Medicina Védica
Autoregulação
Biocosmologia
Biocosmologia yin-yang
Cibernética
Ciências do sagrado
Ciências do maravilhoso
Convergência holística
Cosmobiologia
Cronobiologia
Cura Quântica
Ecossistema
Endocrinologia
Hermes Trismegisto
Holística
Homeostase
Homologia macro/microcosmos
Imunologia
Informação do ADN
Macrocosmos
Maharishi Ayurveda Health Center (Lancaster, Massachussetts)
Mecanismo vibratório do cancro
Medicina ayurvédica
Medicinas energéticas
Microcosmos
Modelo macroscópico (Joel de Rosnay)
Modelo microscópico
Psicosomática
Sincronicidade
Sistema endócrino
Sistema nervoso
Sistemas
Virchow

BASE DA PIRÂMIDE HIERÁRQUICA
18/12/1998 - Aquilo a que poderíamos chamar, com alguma propriedade, a «inteligência da célula viva» é um postulado indispensável para compreender os mecanismos da vida e condição sine qua non para estabelecer um quadro de prioridades nas terapias que podem ou não podem servir a vida e a saúde.
Aceite este postulado -a célula tem uma inteligência intrínseca que a aproxima inevitavelmente de uma estrutura «cibernética» - podemos perguntar onde é que reside essa inteligência.
Várias hipóteses plausíveis se colocam: a mais plausível é a «actividade eléctrica da célula».
Mas, quanto a sistemas orgânicos dos mamíferos superiores, dois desses sistemas são particularmente «suspeitos» de estarem envolvidos e de presidirem mesmo a toda a intercomunicação celular :
a) o sistema nervoso
b) o sistema endócrino
Qual dos sistemas comanda o outro sistema continuará, por muito tempo, a ser um enigma.
Nesta malha de inter-relações recíprocas, a dificuldade é exactamente a de isolar :
a) Sistemas
b) Órgãos
c) Tecidos
d) Célula
e) ADN
porque todos participam e todos são responsáveis por todo o funcionamento celular.
Tudo indica, no entanto, que o ADN terá um papel informacional (transmissão de informação) a desempenhar: quem sabe mesmo se não é o ADN a «inteligência da vida»?

Analisar esta intrincada rede de relações recíprocas é que se torna humanamente impossível.
A análise científica refugia-se, obviamente, no estudo da parte ínfima para escapar à dificuldade de compreender o Todo.
Usando o truque habitual de chamar «metafísico» às questões importantes que não atinge, usa e abusa da habilidade analítica e microscópica.
Na prática, essa habilidade analítica deu a medicina alopática que temos, a qual não se poderá considerar propriamente modelar.
Essa habilidade analítica, porém. não pode continuar a ser usada e abusada numa ciência - a Naturologia - que é holística por natureza. E que surge, exactamente, como reacção epistemológica aos tais usos e abusos da análise - aquilo a que poderemos chamar o «modelo microscópico» da ciência, a que Joel de Rosnay contrapôs o modelo macroscópico.

No entanto, ver e ouvir o que a Biologia Celular tem até agora - dia 17 de Dezembro de 1988 - descoberto e inventariado no microcosmos da célula, se é uma tortura para alunos e professores da especialidade, e se nunca levará à compreensão da vida e do mistério da vida, é um espectáculo fascinante para quem está de fora a assistir à cena, como é o meu caso.
Se a estrutura da célula é esse mundo dentro de outros mundos que o microscópio electrónico tem desvendado, a pergunta a fazer é urgente e pertinente:
a) Se não existe uma inteligência própria da célula, como é possível que todos estes mecanismos, escaninhos, partes e subpartes se interliguem e funcionem?
b) Se a «complicação» dentro da célula é a que o microscópio electrónico mostra, é evidente que toda a intervenção externa terá reflexos tremendos nessa inteligência.
Se a intervenção médico-química nessa inteligência é uma autêntica bomba atómica, a intervenção, embora mais suave, das terapias ditas naturais, não deixa de ser igualmente agressiva e altamente problemática.
À luz da inteligência celular - ou o que se lhe queira chamar - não é só a medicina química ordinária que deverá ser posta em causa.
Também terão de ser revistas - e submetidas ao microscópio crítico - todas as terapias ditas «suaves», para eleger , entre todas, as que se destinam a reorientar o sentido de orientação da célula – a sua inteligência - sem intervenções mais ou menos drásticas que afectam esse sentido de orientação.

IMUNOLOGIA

O tema da inteligência celular liga-se, obviamente, ao da imunologia que é, por sua vez, a ciência-pivot de toda a Naturologia.
Se há cadeiras que deveriam ser autonomizadas num curso de Naturologia, a Imunologia, na perspectiva naturológica, é com certeza a principal delas.

Outro interface ocorrente em imunologia é o do binómio psíquico/somático, binómio que, como é óbvio, se encontra ausente de todas as especialidades.

Outro interface ligado com a inteligência celular , é aquilo que a ciência vulgar já vem estudando nos capítulos da homeostase e da autoregulação celular, em relação à qual toda a atenção que se der é sempre pouca.

HIERARQUIA DA VIDA

O CONTRIBUTO DE ETIENNE GUILLÉ

A noção de hierarquia, que implica a de conjunto e a de sistema /ou ecossistema, é outra noção-chave neste interface de interfaces que a hipótese da «inteligência da vida» suscita.
Um interface e alargamento definitivo disto a que temos chamado «inteligência da vida» é, com certeza, o mecanismo vibratório do Cancro explicado na obra do biólogo e filósofo francês Etienne Guillé.
Com interfaces em outros tantos temas de fronteira:
a)Sincronidade segundo Carl Gustav Jung
b)Homologia Macro/Microcosmos segundo Hermes Trismegisto
c) Biocosmologias tradicionais, das quais a biocosmologia yin-yang ou biocosmologia taoísta é a mais perfeita e se nos tornou acessível através de Oshawa, Michio Kushi e outros geniais pioneiros
d) A Biocosmologia moderna, a criar e para a qual um curso de Naturologia deveria contribuir na área (quase) virgem da investigação naturológica.
Na certeza de que sem nova investigação , à luz do novo paradigma biocósmico, não haverá naturologia que valha a pena.
A Naturologia necessita de bons terapeutas. Mas precisa também de (novos) investigadores que façam avançar, macroscopicamente, no sentido correcto, o conhecimento das novas tendências.
À luz do novo paradigma cósmico, as ciências da vida são e serão as ciências do maravilhoso e do sagrado. E ponto final, parágrafo.

O CONTRIBUTO DE DEEPAK CHOPRA

A expressão «inteligência da célula» vem de Rudolf Virchow (1821-1902) mas, modernamente, foi retomada por Deepak Chopra, especialista em endocrinologia, formado em medicina pela universidade de Nova Deli.
Nasceu em 1947, exercendo a profissão de endocrinologista nos EUA, desde 1971, tendo chefiado a equipa do New England Memorial Hospital.
Próximo da medicina tradicional hindu - ayurveda - Deepak Chopra fundou, em 1985, a Associação Americana de Medicina Védica, foi director do Maharishi Ayureda Health Center em Lancaster (Massachussetts) e professor assistente na Escola de Medicina da Universidade de Boston.
Existem livros seus publicados em português, sendo o livro «Cura Quântica» aquele em que desenvolve a sua tese sobre a «inteligência do corpo» , a que por vezes chama a «mente do corpo».
É um meritório esforço de convergência holística o trabalho de Deepak Chopra que abre, inclusive, uma porta para o diálogo com o movimento chamado de Meditação Transcendental, um dos muitos que hoje proliferam à conta da New Age mas que Chopra ajuda a distinguir no meio da confusão que reina actualmente em matéria de escolas, gurus e correntes que se reclamam da terapia energética.
Dando uma certa credibilidade «científica» à medicina védica, Chopra ajuda à conciliação e síntese dos contrários. Por muito que alguns pensem que a medicina ayurvédica não é propriamente , e por razões filosóficas e técnicas, a vanguarda das medicinas energéticas modernas.
Ou seja, as medicinas que procuram não interferir na «inteligência da célula» mas apenas desimpedir de obstáculos e obstruções e bloqueios o caminho por onde transita a informação intercelular.


PISTA BIBLIOGRÁFICA DE GUIA NA INTERNET

TÍTULOS EXISTENTES NO CENTRO DE PESQUISA ORTOMOLECULAR :

Deepak Chopra - Criando Saúde - Dinalivro - 1987
Deepak Chopra - Cura Quântica - Ed. Difusão Cultural - Lisboa - 1991
Harold Bloomfield - A Descoberta da Energia Interior e o Domínio da Tensão - Dinalivro - Lisboa - 1976
Peter Russel - A Técnica de MT - Um Guia para Cépticos - Ed. Dinalivro - Lisboa - 1979