quarta-feira, 18 de julho de 2012

SURREALISMO & SURREALISTAS-1

realidade

30-7-2010

A REALIDADE COPIA A FICÇÃO

De que forma o «fantástico» irrompe no contexto do nosso tempo-e-mundo? Não é possível entender o género fantástico sem o ligar às condicionantes gerais do mundo contemporâneo que é, aliás e à partida, um tempo-e-mundo onde exactamente se fundem, numa amálgama indescritível, o cómico, o trágico, o real (e) o fantástico, o terror-humor, o humor negro, o non sense, o anacronismo. O que faz do surrealismo uma corrente ainda na moda é ter posto em funcionamento, na chamada literatura e nas chamadas artes, alguns desses mecanismos que definem, realmente, realisticamente, o tempo-e-mundo contemporâneo. Mundo que só consegue ser pensável e compreensível através da ficção. O tempo-e-mundo contemporâneo ultrapassou de tal modo a realidade que só podemos pensá-lo e compreendê-lo através da ficção e do fantástico. Todos os recursos «clássicos» de ficcionar a realidade, desde o símbolo à alegoria, são também convocados e comparecem na actualidade como componente do fenómeno cultural designado de fantástico. Antes de que o mundo concentracionário se tornasse realidade histórica, Franz Kafka deu dele a antevisão através das suas fantásticas alegorias. O símbolo, nesse caso, antecedeu a realidade. Ou a realidade copiou a ficção. [28/2/1990]

AFONSO CAUTELA

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