domingo, 29 de julho de 2012

ANDRÉ BRETON E JACQUES MONOD EM LINHA

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AS LEIS DA IMAGINAÇÃO: O ACASO OBJECTIVO (*)

(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no suplemento literário - «Literatura e Arte» - do «Diário Ilustrado» (Lisboa), em 29/3/1972

Relendo, ao mesmo tempo, «O Amor Louco», de André Breton, na tradução de Luísa Neto Jorge e «O Acaso e a Necessidade», de Jacques Monod, algumas ideias ficam para futuras investigações do Desconhecido. Do Impossível.
“Para a maioria dos espíritos literários, o fantástico define-se como uma violação das leis naturais, uma aparição do impossível”-, diz Louis Pauwels, que logo a seguir comenta e rejeita aquela definição tradicional: “Junto ao insólito e ao curioso, fantástico seria um aspecto mais do pitoresco. Ora investigar o pitoresco nos parece uma actividade ociosa e, resumindo, uma ocupação burguesa. Segundo o nosso parecer, o fantástico não é jamais uma violação, mas uma manifestação das leis naturais. Surge do mesmo contacto com a realidade, com a realidade observada directamente e não filtrada através dos nossos preconceitos e prejuízos, velhos e novos.»
Temos então que, ao contrário do assente e aceite, o fantástico não é uma violação das leis mas um alargamento dessas leis naturais até onde os preconceitos e prejuízos não deixavam ir a imaginação (a razão imaginadora).
Não parece abusivo, pois, considerar que Jarry com a Patafísica, Breton com o surrealismo, Pauwels com o realismo fantástico, Jacques Monod com as heresias de biólogo heterodoxo, estão prolongando e não negando a ciência.
Não é mera questão de palavras chamar«ciência» à ciência A, o que, de A a Z merece tal nome. Não é indiferente e a diferença é importante. Porque está em jogo o reconhecimento «científico» de coisas como as leis da excepção (Jarry), a lógica do contraditório (Lupasco), e a dialéctica da individualidade criadora (anarco-utopismo). No fundo, trata-se de (re)-descobrir a imaginação e suas leis. Ora o que uma concepção tradicional da ciência recusa é que haja leis para a imaginação e que a liberdade possa ter a sua gramática.
Tal como Breton ensina em «O Amor Louco», pode trabalhar-se o acaso e pode trabalhar-se para não sermos cegas vítimas do finalismo fatalista e determinista.
Pode-se ir ao encontro do livre arbítrio. Pode violentar-se a liberdade.
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(*) Este texto de Afonso Cautela foi publicado no suplemento literário - «Literatura e Arte» - do «Diário Ilustrado» (Lisboa), em 29/3/1972

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