1-2 -aaa-ml-er2> 04-07-2005 9:38:35
«HISTOIRE DE LA FOLIE»: GRELHA DE PARTIDA PARA ERRÂNCIAS DA RAZÃO
«Olivier Costa de Beauregard admite que a palavra «paradigma» seja de Kuhn (Structure des révolutions Scientifiques) mas lembra que a ideia já está presente em Pierre Duhem » - diz Dominique Terré-Fornacciari, in «As Sereias do Irracional», pag-155
Para prosseguir a minha narrativa «Errâncias da Razão», encontrei há dias um bom ponto de partida: o reencontro com um livro que tinha há décadas (sem o abrir) nas minhas estantes: «Histoire de la Folie», de Michel Foucault.
Hoje, alguns dias depois, revejo outro ponto de partida, esse mais actual, de agora, e que traça uma panorâmica do que há para discutir entre razão e desrazão ou para lá e para cá das duas.
Intitula-se «As Sereias do Irracional», de uma senhora chamada Dominique Terré-Fornacciari, edição Piaget, 1993.
O Instituto Piaget dá-se ao luxo de manter uma colecção intitulada «Crença e Razão» - o que diz da importância do tema.
A autora retoma alguns dos tiques e tópicos habituais nos intelectuais de formação racionalista (a maioria) incluindo aquela má vontade tão conhecida contra os «esoterismos» e outros «irracionalismos».
Mas lá vai debitando algumas visitas necessárias para a gente ter o panorama da paisagem, o mapa do país «racionalista».
Autores e movimentos vão desfilando para ilustrar uma tese necessariamente pró-racionalista mas também, de acordo com os modernos requisitos, mais aberta a outros horizontes que ela até agora interditava sob o clássico alibi de anti-científico ou não científico.
Outra coincidência óbvia é que a epistemologia continua a não fazer tudo aquilo que diz que faz : a crítica da ciência e da tecnociência.
Entre os autores mais liberais, ela cita Henri Laborit, o tal que considerava o Etienne Guillé «ficção científica».
Tamanha gentileza não diminui a virtude principal de Laborit: uma certa autocrítica da arrogante razão, do arrogante cientifismo.
[Rubricas (códigos) afins de -ER (errâncias da razão)
Files grandes séries a destacar
Dominique já fala da «teoria do caos», a nova mania dos cientifistas e mais um óbvio ululante que eles descobriram.
Quem, senão eles, mais contribuiu para o caos?
Já o disse várias vezes e não preciso de ser «caótico» ou de ser universitário reconhecido para o poder afirmar: vantagens do ignorante. Certas coisas cheiram-se.
Dominique vai um pouco além da epistemologia engasgada de que é exemplo flagrante, em Portugal, o Boaventura Sousa Santos, idolatrado pela classe científica que o discute e promove.
Dominique recupera alguns ícones do tecno cientifismo arrependido mas principalmente alguns dos mais notórios e notáveis «polícias do pensamento».
POPPER
PRIGOGINE
HUBERT REEVES
JACQUES MONOD
GASTON BACHELARD
ALTHUSSER
HEISENBERG
CORNELIUS CASTORIADIS
LUPASCO
FRANÇOIS JACOB
ÉMILE DURKHEIM
GILLES LIPOVETSKY
Dominique chega pejorativamente a usar o sentido translato da palavra esotérico, quando, por exemplo, fala, citando Atlan, do «campo esotérico das matemáticas»
Claro que Dominique se (pre)ocupa dos clássicos irracionalismos que dão rótulos fáceis de «sobrenatural», «paranormal», «parapsicológico». Era inevitável.
Mistura Arthur Koestler ao corpo de «polícias do pensamento», o que me parece injusto e talvez abuso. Koestler conseguiu , talvez por uma perspectiva histórica que lhe relativiza os dislates da arrogância, entrar nos precursores do paradigma cósmico.
Virtude inegável de Dominique: não é discursiva nem prolixa. Se claudica no lugar-comum, passa rapidamente a outro e não chateia. Cita bem e vai contribuindo para o tal mapa da região.