domingo, 20 de fevereiro de 2011
DMITRI MEREJKOVSKY: TODOS SOMOS DEUSES
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CONVICÇÕES SÃO APEGOS : A ÉPOCA DOS GRANDES HOMENS ESTÁ A CHEGAR AO FIM
«O triunfo é do Galileo, mas a vitória será nossa, um dia... Os deuses hão-de voltar... todos seremos deuses.»
Imperador Juliano, in «O Romance de Leonardo de Vinci», de Dmitri Merejkovsky
Paço de Arcos, 9/8/1993 - 1 - Se, através do trabalho com os Metais, entrar em ressonância vibratória com os planetas e outros níveis superiores de energia cósmica, creio que a minha capacidade de ver o uno no múltiplo, entre outras capacidades, se multiplicará. E que verei a unidade que subjaz a todo o léxico do sagrado, por mais marcados pelas condicionantes conjunturais que tenham sido. O aviltamento do Sagrado está a chegar aos seus limites históricos, na proporção directa do materialismo mais grosseiro: a publicidade, como acabo de ver na RTP, em uma produção da BBC sobre o turismo no Egipto, a publicidade aproveita os símbolos e monumentos mais sagrados para anunciar voos charters, ou mesmo o Palácio de Potala para anunciar automóveis. A Queda no Abismo (do) material mais ignóbil e grosseiro vem seguindo a sua escalada para o abismo.
Mas as épocas ou eras zodiacais estão aí para desculpabilizar a acção devastadora do ser humano sobre si próprio, esmagado sobre si próprio. A decadência do «progresso» (retrocessos do Progresso como lhe chamei) é geral, como poderíamos não ser também atingidos? Mas haverá hoje desculpas, hoje que nos foi doado, de bandeja, o Fio de Ariadne da Sabedoria? Invoca-se o conforto que podem dar certas práticas como o chamado espiritismo. E o Aprendiz pergunta se alguém tem o direito de retirar a alguém esse conforto em nome de uma pretensa verdade objectiva.
2 - Enquanto não puder demonstrar, numericamente, com o Pêndulo, que o espiritismo é uma prática com frequências vibratórias X e a Radiestesia ou trabalho com os Metais uma prática com a Frequência Y, não tenho o direito de criticar quem pratique o espiritismo. Só quando for claro como água límpida o nível vibratório a que agem certas práticas - como a magia negra - tenho o direito de propor às pessoas que se deixem disso...
3 - É verdade que, à luz da Hipótese Vibratória, eu já desisti de muitas convicções que tinha como certas - e convicções são apegos como outros quaisquer. A (ideia de) Reencarnação, por exemplo, em que eu acreditava, está posta em causa pela Radiestesia Holística. Mas isso não me dá o direito de fazer os outros abandonar o conforto das suas convicções, dos seus apegos. Aquilo em que eu acreditei - por ordem alfabética, acupunctura, anarquismo, budismo tibetano, macrobiótica, racionalismo sergiano, realismo fantástico, socialismo democrático, surrealismo, taoísmo, zen - foi tudo posto em causa à luz da Hipótese Vibratória. Acho que devia ser assim. Acho que não podia deixar de ser assim. Acho que não se pode estagnar em uma convicção - um Apego - por mais firme que ela seja. Mas não tenho o direito de propor a ninguém que «ponha em causa» as suas convicções - os seus apegos - e os alicerces da sua fé, por mais podres que esses alicerces me posam parecer.
4 - A reverência das grandes figuras é um equívoco histórico e um Sofisma monumental que a Era da Queda instalou nos seres humanos para os fazer resignar-se à mesquinhez da sua condição. Todos temos Deus dentro de nós e podemos, devemos descobri-lo. Esta é a regra de Ouro da nova Idade de Ouro. As vidas ilustres dos grandes iniciados, como escreveu Eduardo Schuré, a vida dos grandes músicos, a vida dos grandes pintores, a vida dos grandes santos, a vida dos grandes alquimistas (e não falo, claro, da vida dos Napoleões e outros ões), não é nada que nos faça ajoelhar. Cristo foi um ser humano como eu. Buda foi um ser humano como eu. São casos. São exemplos, que chegaram até nós pela notoriedade pública. E como tal - como exemplos - nos devem servir. Não devemos é consentir que sejam eles a servir-se de nós.
A vida do mais anónimo dos anónimos é tão importante, à face de deus, como a de Einstein, Freud, Dostoiewsky, Kafka, etc. O culto dos heróis é uma fraca proposta de Carlyle e os «representativ men» de Emerson o modelo de uma América do Norte que criaria no marketing o culto do materialismo mais abjecto e grosseiro. Um culto onde o Sagrado é matéria de publicidade turística. Em plena era do marketing é o culto do herói, do representativ man, do premiado, do galardoado, do distinguido, que vigora para alimentar a guerra do struggle for life, o egoísmo e a Inveja Social. O serem falados e famosos só nos pode ajudar porque o seu caso, tornado público, nos pode servir como exemplo.
Mas mais nada. Abaixo a reverência. Abaixo a idolatria. Desconfiai das grandes épocas como a Renascença. Foram, de facto, os picos da decadência. Os picos do Abismo Invertido, o mero reflexo de um materialismo condensado em que a vida do espírito só era possível aos da Vinci, aos Miguel Ângelo, aos Savonarola, aos génios. A Era dos grandes homens está a chegar ao fim. Na Nova Idade de Ouro, todos os homens (seres humanos) serão grandes homens. E a Humanidade uma e única Alma.
Lisboa, 10/8/1993■
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