domingo, 2 de janeiro de 2011

L. PAUWELS E J. BERGIER: «O HOMEM ETERNO»-II


planète-7> o movimento das ideias - releituras mágicas - em demanda do novo paradigma

AS CIVILIZAÇÕES POSSÍVEIS (*)

«L’Homme Eternel», o livro de Louis Pauwels e Jacques Bergier, no mesmo estilo que tornou famoso «O Despertar dos Mágicos», vai coligindo todos os sinais que, reconhecidos até agora, nos induzem a considerar uma multiplicidade de civilizações antes desta nossa. A hipótese, aliás, parece fecunda, a avaliar pelas duas séries - Planète e Le Nouveau Planète - da revista a que deu origem. Agora que foi anunciado o fim da segunda série e a reaparição, em 15 de Outubro, de uma Planète completamente remodelada, a expectativa dos «mutantes» é justificada. Como justificada é a expectativa dos que aguardam a edição portuguesa de L’Homme Eternel, já anunciada para o próximo mês de Dezembro, lançada pela Bertrand. Os contemporâneos do futuro es-tão cada vez mais e ao que parece no caminho certo. Os factos têm vindo confirmar as (mais ousadas) antecipações.
Falando ainda das várias civilizações possíveis, no tem-po e no espaço, facto que choca o ancestral racismo e o inveterado chauvinismo do homem europeu, devem referir-se dois outros pontos de fricção onde o tal racismo faz imediatamente faísca: ao contacto com o zen-budismo, por exemplo, largamente adaptado pelas comunidades jovens, «hippies» ou não, as estruturas estabelecidas, reagindo pela brutalidade ou pela repressão, demonstram bem o pânico de que se tomam. É incrível, aliás, que gente «civilizada» possa acolher a religião da não-violência com tamanha agressividade.
Outro aspecto da «paz» branca é o da polivalência ou relatividade cultural, encarada como objecto abstracto de assimilação filosófica, maneira que a ciência universitária (estruturalismo à cabe-ça) encontrou de digerir um fenómeno para ela bastante indigesto como é, precisamente, a existência e autonomia de outras culturas, de outras etnias, de outras epistemes, de outras morais que fundamentalmente contrariam as vigentes.
O estruturalismo foi a última invenção das ciências humanas para ocultar a sua própria e estrutural covardia. Reduzindo à teoria a realidade humana polimorfa, julgará a ciência oficial liquidar as dificuldades tratadas por uma revolução humana e humanista que não soube (ainda) fazer? Tudo indica que a ciência oficial chegou ao fim (o diagnóstico está feito desde 1960, data em que se publicou Le Matin des Magiciens). Agora, ao que parece, a Mutação é muito mais im-portante que a verborreia teoricista dos verborreicos cientistas que, inventando a Ecologia, por exemplo, julgavam ter resolvido o super-problema da Poluição. O homem europeu raciocina assim como um menino antes de belfegorizado pela televisão: julga ter aniquilado a febre e a doença de que a febre é sintoma só porque a mediu com um bem graduado termómetro...
É isto o que à custa de muitos e belos entalanços, o homem europeu está finalmente em vias de ver: que não basta pôr o termómetro e medir a febre, para que a doença desapareça. Mas isso já o Zen sabia, há pelo menos uns dois mil anos. Como não hão-de as populações assustar-se com a eventualidade de uma «invasão» marciana? Se elas ficam assustadíssimas só com a eventualidade do Zen budismo ter... razão!
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(1) «L’homme eternel», de Louis Pauwels e Jacques Bergier, Gallimard, Paris, 1970, 175$50

(*) Este texto foi publicado no diário «Notícias da Beira», Moçambique, na rubrica do autor intitulada «Notícias do Futuro», em 30/8/1971

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