segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

JACQUES BERGIER NA BIBLIOTECA DO GATO-I






planète-6> - o movimento das ideias - releituras mágicas - em demanda do novo paradigma

JACQUES BERGIER ENTRE O POSSÍVEL E O IMPOSSÍVEL(*)

Até onde vai o poder do homem, ampliado pela tecnologia?

A esta pergunta procura responder Jacques Bergier com o livro que acaba de sair nas Edições Castermann, na colecção «Mutations-Orientations», dirigida por Michel Ragon.
Considerando que a nossa geração vive uma explosão das ideias, dos costumes, de todas as estruturas mentais e sociais, ao mesmo tempo angustiosa e apaixonante, esta colecção «Mutations-Orientations» propõe-se repensar cada questão, actualizá-la e retirar daí as suas perspectivas ou a sua prospectiva.
Com esse objectivo, saíram até agora títulos tão importantes como: «La Tragédie de L’Énergie», de Stéphane Lupasco; «Des Loisirs: pour quoi faire?», de Jean Fourastié; «La Médicine en Mutation», de Jacques Ménétrier; «L’Archítecture et la Révolte de la Jeunesse», de Maurice Joyeux; «L’Avenir à Reculons», de Pierre Schaeffer; anunciam-se para breve: «L’Art, pour quoi Faire?», de Michel Ragon, director da colecção, e «Design et Environnement, de Georges Patrix.
«Les Frontières du Possible», de Jacques Bergier, último volume aparecido na colecção, é também um livro apaixonante e, sem dúvida, polémico. Bergier não se limita a evocar todas as possibilidades postas à disposição do homem pela ciência e pela técnica, mas enumera também aquilo que o homem nunca poderá realizar.
Entre as possibilidades, indica ele: criar a vida no laboratório; viajar no passado; transmitir energia eléctrica pela TSF.
Entre as impossibilidades: predizer o tempo e os tremores de terra; fabricar uma máquina automática de traduzir; realizar um ecrã de gravitação; fotografar o passado; descobrir novos elementos entre o hidrogénio e o urânio; tornar-se invisível; viajar até ao centro da terra; criar plantas de nascimento instantâneo; viajar no átomo; escrever um romance policial em que o assassino será o leitor.
Na maior parte destes temas, Jacques Bergier encontra-se bastante à vontade, pois fazem parte dos seus estudos e da sua especialidade: Bergier, que se tornou famoso como co-autor do livro «La Matin des Magiciens» (O Despertar dos Mágicos, na tradução portuguesa, editada pela Bertrand) e co-fundador da revista «Planète», é em França um dos melhores especialistas de ficção científica e de literatura fantástica. Mas é igualmente homem de ciência, tendo descoberto os efeitos da água pesada sobre os reactores e o arrefecimento electrónico das pilhas nucleares.
Membro da Academia das Ciências de Nova Iorque, Jacques Bergier publicou várias obras, das quais acaba de sair em português «A Espionagem Industrial» e dirige actualmente a revista «Espionnage». Durante a guerra, participou na destruição da base de Peenemunde, onde os alemães fabricavam os célebres foguetões VI, V2eV3.
A posição de Jacques Bergier, ao abordar problemas tão melindrosos, não é nem a de um dogmático (negando suficiente abertura à ciência para caminhar no caminho do possível até ao impossível), nem a de um fantasista, que se compraz a supor no domínio das ciências positivas tudo o que os novelistas de antecipação com mais ou menos segurança inventaram. Ele define assim o justo meio termo entre o dogmatismo e a libertinagem intelectual:
«É preciso seguir uma via intermédia. A nossa ignorância é tal que o inesperado pode chegar. Mas a nossa credulidade é também de molde a fazer-nos aceitar demasiado facilmente não importa o quê. É preciso, portanto, ser extremamente prudente.»
Mas, também, corajosamente ousado e heterodoxo, acrescentamos nós. Quanto mais se aprofunda o real, mais fantástico ele nos parece e aparece. O realismo fantástico apresenta-se, assim, como um método de investigação que oscila entre o rigor da ciência e a liberdade da imaginação. Entre o possível e o impossível, como faz Jacques Bergier.

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(1) «Les Frontières du Possible», de Jacques Bergier. Col. «Mutations-Orientations» Ed. Castermann, Paris, 1971, 63$00.

(*) Este texto foi publicado no semanário «O Século Ilustrado» (Lisboa) , na rubrica semanal do autor intitulada «Futuro» em 17/7/1971 e no diário «Notícias da Beira» (Moçambique), na rubrica do autor intitulada «Notícias do Futuro», em 7/7/1971

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