quinta-feira, 9 de agosto de 2012

IDEIAS-CHAVE NO TRAJECTO AC-I

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50 ANOS DEPOIS:
8 IDEIAS-CHAVE NO TRAJECTO AC
QUE AINDA PERSISTEM

Onde se recuperam algumas páginas de diário, dos anos 1963, 1964, 1972,1973, com alguns cortes cautelosos, por causa dos mosquitos…«Ecologia humana» ainda hoje ninguém sabe o que seja

1. A RELATIVIDADE DAS CULTURAS E A PERSPECTIVA DE ESCALA

[ 1972 ] Datam de 1972 alguns dos artigos publicados que foram marcantes na «descoberta» de intuições (de Ecologia Humana) ainda hoje, quarenta anos depois, por validar ou invalidar. São as chamadas «teses impopulares», que me parece estar condenado a levar por toda a vida como uma cruz e que talvez nunca saiba se valeram ou não a pena. Quer dizer, se efectivamente tinha razão em defendê-las, sozinho, contra tudo e contra todos. É costume dar sentenças fáceis, aconselhando cada um a manter-se fiel às suas próprias convicções, neste caso às suas próprias intuições.

Outro aspecto a sublinhar é que essas intuições vão radicar -- vão encontrar raízes -- numa intuição central, surgida (em 1962?) após a experiência surrealista e existencialista e a que, para facilitar, tenho chamado «perspectiva de escala», desde a perspectiva do animal à do extraterrestre, do louco ao toxicodependente, do pobre ao hipermilionário, desde a cultura aborígene dos maias ao modus vivendi de uma Europa medieval.
Cada «behavior» condicionado pelo meio, acho que foi sempre o centro à volta do qual girei, como um pião doido, pois a relatividade das culturas (das «perspectivas de escala») é um redemoínho anti-dogmático, capaz de consumir quem nele aposte ou se meta.

2. A EXPERIÊNCIA SUBTERRÂNEA - POESIA COMO SINÓNIMO DE INICIAÇÃO
[1963] Quando publiquei alguns artigos, em 1972, impulsionado por esta intuição básica, nuclear, chave, deixava para trás muitos inéditos, que, desde 1963, falavam de idênticas obsessões.
É de 1963, o ensaio «A experiência subterrânea - Poesia como Sinónimo de Iniciação», assinalando a influência esmagadora que tivera sobre mim a leitura desse texto imenso de algumas páginas que é «A Voz Subterrânea», de Dostoiewski.
Acho que foi este escritor eslavo o responsável pelas minhas manias ecologistas, apenas explícitas dez anos mais tarde.
Também de 1963 (Abril), são vários inéditos sobre surrealismo e, como intuição anti-estalinista básica, o ensaio (só muito parcialmente publicado) «Os Equívocos do equívoco neo-realista».
[«Neo-realismo» era o eufemismo de que então se serviam alguns clandestinos como eu para designar o gulag estalinista totalitário nas artes e nas letras. Se o tivesse publicado na íntegra, aliás, os meus «infortúnios como escritor» teriam começado muito mais cedo e teriam sido ainda maiores do que são, neste preciso momento, em que continuo a ser vítima da reacção estalinista em Portugal em 5 de Agosto de 2012.]

3.DEFINIÇÃO DO OBSCENO NO ENSAIO DE HENRY MILLER

[1963 ]Creio que é também de 1963 (como se o meu ritmo fosse de 10 em 10 anos e não de sete em sete!... ) um outro texto-chave das (minhas) intuições, a que chamei «Definição do Homem Obsceno».
Curiosamente, acaba de ser publicado pela editora Hiena, em 1991, o ensaio de Henry Miller, que na altura me bateu forte e me levou a escrever essas 19 páginas A4, rigorosamente inéditas até hoje. É de notar apenas que a palavra «obsceno» tem continuado a servir para tudo, menos para designar aquilo que, filosoficamente, Henry Miller e eu significámos...
Como se 19 pgs A4 fosse pouco, existe ainda um outro ensaio (rigorosamente inédito), intitulado «Acção Obscena e Reacção Literária» que, mesmo inédito, deve ter largamente contribuído para meus infortúnios literários.

4. ENTRE A POLÍTICA DA METAFÍSICA E A METAFÍSICA DA POLÍTICA.

Também de 1963 -- como ano a que hoje chamaria «compact», pelo concentrado de produção que originou - , há um outro longo ensaio, inédito até hoje, inspirado na leitura absorvente (do niilismo) de Samuel Beckett, «Exercício dialéctico -- Entre a política da metafísica e a metafísica da política».

5. A VOZ TRÁGICA

Parcialmente publicado (creio que no «Jornal de Notícias», suplemento literário) é também de 1963 (ano de oiro ou ano da desgraça?) «A Voz Trágica», escrito, creio eu, sob a influência quase demoníaca de Nietszche, cuj «A Origem da Tragédia» foi para mim também uma tragédia, pela forma como me bateu forte na cabeça. Ou antes, em todo o ser e não só no intelecto. Quando falo de experiência existencial -- ou de «aventura surrealista», ou de «homem obsceno» -- é isso que também quero dizer.

6. O CONCEITO ALARGADO (OU PLURAL) DE ALIMENTO/ALIMENTOS.

[1964] «Diz-me o que comes -- em sentido lato -- e dir-te-ei quem és...»
Em 1964, já AC procurava o «sentido lato» (conceito alargado) e portanto a metáfora do «ar que se respira», sendo claro ao seu espírito que o «ar que se respira» é também o ideológico, o mitológico, o industrial, o químico, o físico.
Poucos anos depois, viria o sentido lato da expressão «o que comemos» e, portanto, o sentido lato da palavra «alimentos».
Mais tarde, encontraria, emocionado, em Simone Weil, a confirmação desta intuição do conceito alargado (ou plural) de alimento/alimentos.
E o inventário surgia, espontâneo, como o processo literário de dar a soma/ ou o somatório dos diversos factores ou «parcelas da soma».

7.PRIMORES DO REFORMISMO

[1972] Dez anos depois destes pontos vitais, creio que me aplicava mais terra a terra ao concreto, deixando na prateleira os escritores e todo o seu veneno letal. Chama-se «Contributo à Revolução Ecológica», um livro publicado em condições bastante curiosas -- impresso e composto em Coimbra, por influência do meu compadre Matos-Cruz.
É só para dizer que nesse livro se encontram impressas algumas intuições que me gabo de ter tido e que até hoje não vi ...confirmadas nem desmentidas.
Cito, por exemplo, títulos como: «Generalizando Conceitos para compreender certos preconceitos» (10/7/1972), «Melhorar o Mal - Primores do Reformismo» (12/7/1972), «Desprezo pela qualidade da existência» (19/8/1972).


8.A CADA UM O SEU SARAMPO E A VACINA PARA TODOS

[1973] Em 5 de Junho de 1973, aparece publicado no «Diário do Alentejo» (o jornal que mais aberto se mostrou às teses esquisitas), um artigo de 5 pgs A4, «Aspectos esquecidos pela Campanha Internacional contra a Poluição».
Irá aparecer em livro incluído em «Ecologia e Medicina», um texto carregado de maus presságios (intuições...), « Tristes recordações de um Dia Mundial» (10 pgs A4), escrito no Dia Mundial do Ambiente, 5 de Junho, Nesse texto, abordava-se o tema ainda hoje tabu da medicina preventiva confundida com «vacinas».
Data de alguns dias antes -- 28/5/1973 --, o texto mais virulento sobre vacinas -- posteriormente aparecido em colecção «Textos de Apoio» -- que se intitulava «A Cada um o seu sarampo e a vacina para todos». Para o bem e para o mal, continuo a achar que esse texto -- longo de 21 pgs A4 --, essa tese e essa intuição, continua intocável. E que é um ponto-chave da alavanca na subversão do sistema.

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