sexta-feira, 8 de abril de 2011

D.H.LAWRENCE: OS CAMINHOS DO MARAVILHOSO




lawrence-1> quinta-feira, 13 de Junho de 2002

solta ou em secção «releituras do acaso» - suplemento «Largo» - 3772 caracteres - hipóteses para ilustrar: retratos de D.H. Lawrence, Henry Miller, Henri Michaux, etc - correspondências mágicas - caminhos do maravilhoso - releituras do Acaso

VANGUARDA, REGRESSO ÀS ORIGENS

3/2/1992 - Em pintura, as aquisições da revolução modernista foram, quase sempre, a descoberta do que permanecera até então virgem dos olhos ocidentais do colonizador branco, no tempo e principalmente no espaço. E a arte dos chamados «povos primitivos» passou ao primeiro plano das revistas e casas da especialidade. Generalizou-se mesmo um snobismo do exótico, que houve aliás em todos os tempos mas a que a sensibilidade ocidental (europeia, norte-americana e satélites) se tem mostrado particularmente sensível, talvez com objectivos turísticos.
Apaixonado pelos padrões de vida diferentes do padrão Ocidental, o profeta e escritor de língua inglesa David Herbert Lawrence, deixou impregnar a sua obra de culturas alheias e quase adoptou como suas: o México de «A Serpente Emplumada», e a Austrália de «O Canguru».
Henry Miller, outro crítico implacável da «civilização» ocidental, adoptou como suas, outras culturas e outras obras. Manifesta, por exemplo, é a sua predilecção pela tradição dos magos e alquimistas, nomeadamente numa das obras capitais do seu pensamento, «Souvenirs, Souvenirs».
Henri Michaux -- pesquisador das realidades-limite, sempre em viagem fora e dentro de si, à procura de novas ópticas para compreender aspectos da realidade que a razão até agora não esgotou -- não inventou apenas países na sua imaginação, mas viveu em outros que se diriam «imaginários» de tão desconhecidos e desprezados. Michaux, que leu poetas chineses e místicos hindus, conferiu à poesia atribuições que muitos ignoram mas de que ele foi arauto e profeta. Será que sem essa universalidade, e essa gama de pesquisas nas mais diversas experiências, o poeta hoje já pouco ou nada tem a descobrir que valha a pena dizer ao homem da sociedade industrial, estandartizado pelos próprios produtos standart a que se reduziu todo o processo de criação?
Movidos quase só pelo exótico, recordam-se alguns autores que captaram de culturas não ocidentais os aspectos por vezes só exteriores mas que tinham afinidades com a sua própria linguagem: Venceslau de Moraes e Camilo Pessanha são casos bem conhecidos na literatura de autores portugueses.
Pode ser uma minoria de vinte milhões (os negros americanos dentro da população) ou apenas de algumas unidades. Mas o que define as minorias -- a solidariedade universal -- torna-as na soma e totalidade da (?) maioria absoluta. Só que, por distribuição irregular de riquezas, as minorias aparentes são as maiorias reais (em poder económico e político) e as minorias reais são as maiorias aparentes.
Exemplificando, na literatura: autores privilegiados, pertencentes à classe que pode e manda, monopolizam o direito de falar dos outros, dos próprios humilhados e ofendidos, do lumpen-proletariat, dos que não têm voz; monopolizam a voz dos que a não têm e deles, sobre eles, por eles falam.
Caryl Chessmann, Albertine Sarrazin, Violette Leduc, Jean Genet, surgidos da inframiséria que os privilegiados denominam abjecção, falam de si e por si. Mostram o avesso da sociedade luxuriante e luxuriosa. Quando procuramos, no deserto humano que constitui hoje o «convívio» tal como as empresas e o trabalho o estabeleceram, só nos perseguidos de todos os tempos encontramos, tanto como na música, a companhia não alienada, a companhia que não é ainda outra forma burlesca de solidão. Perseguidos e doentes, «out-siders» e franco-atiradores, segregados e famintos, de qualquer forma e por qualquer motivo o rebotalho da sociedade da pilhagem, as sobras da abundância, as migalhas do banquete.