terça-feira, 14 de dezembro de 2010

YVETTE K. CENTENO: LITERATURA E ALQUIMIA

apdn-8 > - alquimia, simbologia, numerologia

ALQUIMIZAR A ALQUIMIA

Lisboa, 20/11/1996 - Relativamente à acepção noológica da palavra «Alquimia», várias alíneas devem ser consideradas , no sentido de não desperdiçar tempo e energias em pistas erradas.
No campo das 12 ciências sagradas, a Alquimia é, com certeza, aquela onde o caminho se encontra minado de maiores ciladas, onde o caminho, a maior parte das vezes , é descaminho.
Pistas de orientação seguras, confirmadas pela experiência e pela prática, eis algumas:

a) A maior parte da literatura que existe alegadamente sobre alquimia releva do puro delírio e da pura fantasia. O facto de o discurso sobre Alquimia se apoiar essencialmente em símbolos (imagens simbólicas) e como os símbolos permitem as interpretações mais dispares e disparatadas (arbitrárias) leva a que o discurso sobre Alquimia seja , na maior parte dos casos, literatura, pura literatura.
Deslindar e distinguir o que é literatura do que é ciência , eis um dos trabalhos alquímicos prévios mais necessários.

b) Um livro onde a interpretação dos símbolos é conduzida com prudência e enorme conhecimento de causa - seleccionando as fontes que verdadeiramente interessam e separando as verdadeiras das falsas - é o livro de ensaios de Y. K. Centeno, «Literatura e Alquimia», Ed. Presença, Lisboa, 1987.
Sendo a autora especialista em Germânicas, tem acesso às fontes de língua alemã, que se mostram de grande fidedignidade, no que toca à simbologia, nomeadamente Victor Jacob Bohme, Goethe, Carl Gustav Jung, Lessing.
Sem abusar do número de títulos citados, as bibliografias indicadas por Yvette Centeno são, regra geral, as que interessam aos temas tratados, especialmente ao aprofundamento da alquimia simbólica que é um dos sentidos certos de abordar a Alquimia - o da Alma ou dos Símbolos.

c) Ensina a experiência que não existe apenas uma alquimia mas várias. E que a generalização da palavra a vários domínios da realidade se explica porque ela constitui de facto uma metáfora de si própria e do próprio universo humano, constantemente auto-reproduzida, a níveis de energia sucessivamente mais refinados.
1) Alquimia alimentar, metabólica ou ortomolecular, a nível da célula viva - acepção que constitui praticamente a maior descoberta das múltiplas descobertas que Etienne Guillé realizou.
2) Alquimia da alma (palco da tragédia da incarnação, após a Queda) em que Carl Gustav Jung e pós junguianos nos deixaram um legado insuperável, fonte de acesso às origens e arquétipos primordiais.
3) Alquimia cósmica, a nível das energias criadoras ( Enxofre, Mercúrio e Sal filosofais), onde Etienne Guillé coloca as 3 energias filosofais e a própria energia da pedra filosofal.

d) Será problemático e um estudo a fazer, decidir se a ocultação da superior sabedoria alquímica foi obra de castas sacerdotais ciosas de guardar o poder espiritual só para elas, ou se o secretismo de castas e colégios de mistérios será a condição sine qua non de preservar as fontes sujeitas a toda a ordem de desvirtuação, degradação e aviltamento: a decadência dos símbolos é uma das ocorrências mais correntes em ciências sagradas, nomeadamente em Alquimia. Ocorrência que a Noologia fundamentalmente pretende corrigir.

e) A indissociável ligação da Alquimia à Simbologia , assinala que, no quadro das 12 ciências sagradas, a Simbologia, a que, em Noologia, prefiro chamar «Arquetipologia» (mais global) surge, só por si, como uma delas.
Mas, como sempre acontece, no contexto das 12 ciências sagradas, a distinção é muito subtil e só poderá fazer-se gradualmente, não havendo uma linha de fronteira nítida a demarcá-las - o que é , como se sabe, uma das dificuldades metodológicas das ciências sagradas e do paradigma mental que reclamam.

f) Uma outra das 12 ciências sagradas que surge constantemente associada à Alquimia é a Kaballah, largamente citada no livro de Y. K Centeno.
A ginástica entre Hermes, o Primeiro, e as mais modernas adaptações do legado hermético como a Kaballah, é outra das dificuldades metodológicas dos nossos estudos de Noologia.

g) A 3ª grande dificuldade metodológica é que a condição sine qua non da Alquimia como ciência é a de uma vivência, que tem de ser, simultaneamente, uma vivência , uma experiência, uma prática, uma reflexão, uma síntese, uma análise, etc.
Se o referido estudo de Y. K. Centeno é exemplar no aspecto teórico, poderá ter essa falha, comum aliás a muitos ensaístas que falam, de cor, da Alquimia que nunca experimentaram ou consciencializaram .
A grande questão da Alquimia - arte, ciência e prática operativa - é que, para falar dela, sem ser de cor, tem de se fazer primeiro a alquimia pessoal ao nível do ADN da célula, da molécula. De contrário, é pura «cosa mentale», é puro papagueio. E alquimia só mental, aborrece, não existe: de coisas virtuais estamos repletos hoje em dia.
Alquimizar a Alquimia é a primeira grande condição e o primeiro grande postulado da Noologia Geral e da Noologia Médica.

h) Alquimizar a Alquimia é sinónimo de iniciação - que aparece como experiência sine qua non da Alquimia e vice-versa. As escassas referências de Y. K. Centeno a Paracelso pode ser um indício de desvalorização da prática em favor dos teóricos da Alquimia.

i) Como prova a bibliografia disponível de autores divulgadores da história da Alquimia, os símbolos dominantes na Arte:
Labirinto
Espiral
Andrógino
Fogo
Dragão
Árvore
Homunculus
Adão primordial
Lucifer
Queda
Rio
Ponte
repetem-se constantemente.
1) É uma das suas características - a repetição. Outras se sublinham:
2) Ambiguidade
3) Leitura (descodificação) pelo menos a 3 níveis
4) Proximidade dos arquétipos e do inconsciente colectivo (transpessoalidade)

j) Para os que abordam a Alquimia na perspectiva mais literária e ensaística, há símbolos preferidos e há livros inteiros , por exemplo, sobre:
Labirinto
Andrógino
Espiral
Esfinge.
Em contrapartida , há livros de Alquimia que não citam a Esfinge ou o Caduceu. É o caso do livro de Yvette Centeno.

l) Se a degradação dos símbolos é um facto (e um dos aspectos definidores da Queda) , a degradação do discurso , dos textos, será ainda maior , devido ao efeito «Babel».
Se é um facto que, como reconhece Marie Louise Von Franz, «os contos de fadas exprimem de um modo extremamente sóbrio e directo os processos psíquicos do inconsciente colectivo » e que «os arquétipos são aí representados no seu aspecto mais simples, mais despojado, mais conciso» - a abordagem do conto de fadas deverá fazer-se com redobradas cautelas, atendendo aos factores históricos que corrompem o discurso mais ainda do que as imagens simbólicas.
Decorre daqui que o valor vibratório é sempre superior na letra, ou em conjuntos elementares (silábicos, «les briques», Etienne Guillé) - binário, ternário, quaternário, etc. - do que em palavras ou em discursos e contextos.
Não é por acaso que o trabalho alquímico se deverá fazer:
1º com os metais
2º com as letras
3º com as letras dos alfabetos sagrados - sânscrito, hebraico, egípcio.
Na minha pequena biblioteca de Ciências Sagradas conservo cerca de centena e meia de livros não só com os chamados «contos de fadas» mas com as lendas, contos tradicionais e provérbios de diversos povos.
Aliás, por parte dos intelectuais não se verifica muito entusiasmo relativamente aos provérbios, como forma de acesso aos arquétipos.

m) A própria globalidade semântica dos símbolos, pode expô-los ao referido delírio de descodificações. É caso para dizer que o «símbolo tudo consente».

n) Seleccionar Símbolos é, em Alquimia, um trabalho tão necessário como seleccionar palavras. Uns e outros - símbolos e palavras - são nomes de Energias e é , como tal, que a sua selectivação e posterior hierarquização numa escala coerente de valor vibratório se torna indispensável ao trabalho do estudante de Noologia.
Yvette K. Centeno chama a atenção para o livro de Ruland, «Lexicon Alchemiae», belíssimo título para este capítulo dos nossos «Elementos de Noologia» a que chamámos «Glossário das Energias».
É neste contexto que se inserem as listagens efectuadas pelo grupo de pesquisa de Paço de Arcos como um instrumento didáctico interessante.

o) Fazendo a ponte para mais uma das 12 ciências sagradas - a Numerologia, Aritmosofia - Y.K. Centeno tem 2 páginas particularmente admiráveis , na ousada interpretação que faz dos cânticos de «Os Lusíadas» .
A reter:
- O número 10 do Canto X é o número do regresso, do retorno à unidade primeira
- O «caminho» como significando «iniciação»
- «Mas o que é Deus, ninguém o entende. Que a tanto o engenho humano não se estende» . Verso de Camões
- No canto X realiza-se a soma da perfeição: o 1+2+3+4 dos pitagóricos dá o número de excelência que é o 10 (soma dos 4 primeiros números, sendo o 4 em si mesmo uma representação da totalidade). O 10 é um número par: feminino completa o 5, ímpar, masculino.
Se o canto V é o da força actuante, masculina (que o Gama e Portugal representam) o Canto X é o da fecundidade feminina, o da Sabedoria que preside à criação do universo (que Vénus representa)
- «A visão da Cabala é sempre colectiva: trata-se da humanidade e não do indivíduo, do Adam Kadmon, do homem cósmico, do homem primordial.»
- Toda a dinâmica da emanação sefirótica reside na alternância entre o Poder e o Amor. Estas 2 sefirotes são as 2 faces da Divindade:
a) Elohim, deus da Justiça
b) Jehovah, deus do Amor
O reconhecimento da identidade das 2 faces de deus obtém-se no termo do devir, na totalidade harmoniosa das 10 sefirotes.»

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